Capítulo I
PREÂMBULO DAS SETE CARTAS ÀS SETE IGREJAS
INTRODUÇÃO
O primeiro capítulo do Apocalipse é o glorioso pórtico da mais grandiosa revelação de Deus ao homem. Inicialmente, a introdução do famoso livro demonstra, de modo a não deixar a mais leve dúvida, a sua origem divina, para que a igreja cristã, a quem a grande revelação se destina, pudesse confiar inabalavelmente em sua mensagem através de todos os tormentosos séculos de sua existência como porta-voz autorizada de Deus no mundo.
A seguir deparamos as bem fundadas razões por que João, o amado apostolo, fora escolhido como portador pessoal do Apocalipse à igreja. Quando Deus preserva um homem de perigos que ameaçam a sua vida, é por que tem para ele um honroso propósito futuro.
Finda a introdução encarecendo o imenso valor das profecias e promessas do sublime livro, salientando uma tríplice e inestimável benção reservada aos que as prezarem e acatarem com inteira sinceridade.
A dedicação do Apocalipse à igreja cristã encerra uma incomensurável saudação de Deus, de Seu Filho e de Seu Espírito, em que seu triunfo é assegurado.
Depois da dedicação e saudação, o profeta passa a falar, ligeiramente, das circunstâncias que o rodeavam ao receber o Apocalipse, que, aliás, para a sua avançada idade, foram as mais dramáticas possíveis.
O Apocalipse, continua S. João, foi-lhe revelado num dia de grande transcendência, pelo que não esquecera de salientar solenemente o seu glorioso nome que o distingue dos demais dias da semana. Ao tratarmos neste capítulo do referido dia, veremos que a importância desta ultima revelação de Deus ao homem, exigia um dia de indizível preeminência histórica e revelador da mais alta significação universal, pelo que outro seria supérfluo como data semanal da grande mensagem à igreja. Possivelmente nos surpreenderemos com a grandiosidade das razões por que fora ele distinguido dos demais e recebera tão honroso título dentre todos.
O capítulo finda com a primeira parte da primeira visão, onde a igreja de Cristo é revelada no mais glorioso símbolo que a eleva como portadora da mais gloriosa luz jamais divulgada aos mortais. Cristo, entretanto, é a figura central desta visão, na qual O deparamos em seu supremo oficio sacerdotal e em sua suprema majestade e poder, ao ponto de o seu querido discípulo, nem mesmo em visão, poder suportar a majestosa gloria de Sua presença.
A FONTE ORIGINAL DO APOCALIPSE
VERSOS 1 – “Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu, para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer; e pelo Seu anjo as enviou, e as notificou a João Seu servo”.
REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO
As palavras iniciais do Apocalipse deixa bem evidente a fonte original de sua procedência. Posto que o título do livro seja – Revelação de Jesus Cristo – seu verdadeiro autor é Deus, a Eterna Fonte de toda sabedoria e verdade. Aqueles que prezam o Apocalipse e o estudam detidamente, ficam em estase ante a infinita sapiência que condensou em sublimes símbolos a história das nações, das grandes religiões e da igreja de Cristo na era cristã.
É muitíssimo significativa a expressão do discípulo amado de que Deus dera a Jesus a revelação contida no Apocalipse. Sabemos que Deus, desde o pecado do primeiro homem, não mais se comunicava pessoalmente com a família humana. Todavia, seria contrário ao Seu caráter santo de Pai amoroso, desligar-se definitivamente de Seus filhos, por terem eles pecado. Era por demais inconcebível que Aquele cujo caráter tem por fundamento o amor, os abandonasse a perecer em seus delitos e pecados, sem que lhes provesse um recurso que os erguesse do estado de decadência e os restaurasse. Daí a gloriosa história da eterna salvação que nos foi contada pelos santos profetas e apóstolos. Eles nos disseram e nos dizem ainda, que Deus o amante Pai, não desprezou e não abandonou o homem em sua miséria, mas que, proveu um sublime glorioso meio, pelo qual pode aproximar-se novamente dele e erguê-lo do terrível charco do pecado em que caíra. Sim, e este glorioso meio é Seu próprio Filho Jesus Cristo. Por meio de Seu dileto Filho e amante Salvador nosso, tem Deus enviado a nós toda a revelação das Sagradas Escrituras através de séculos no passado. Deus, a não ser por Jesus, jamais se comunicou com Seus filhos caídos. O Apocalipse constitui a última revelação de Deus a Seus amados ou à igreja de Seu Filho, em primeiro lugar para dar-lhes a certeza de Seu amor por eles, e em segundo lugar para adverti-los dos perigos espirituais e dos seus perigosos adversários.
O OBJETIVO REAL DO APOCALIPSE
O objetivo desta grande revelação não é outro além do que é expressado no texto primeiro: “Para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer”. Antes de tudo, urge a pergunta: Quem são os servos de Deus aos quais fora dado o Apocalipse? E, ainda: Que quer dizer ser servo de Deus? O termo servo já indica quem são e o quer dizer ser servo de Deus. O servo de Deus é, pois, aquele que O serve, que se deixa orientar por Sua expressa vontade. Os servos de Deus, mencionados nesta profecia, são os componentes de Sua igreja na terra, ou, melhor dito, a igreja que é fiel e zelosa na observância dos Seus mandamentos e do evangelho do Senhor Jesus Cristo, Seu Filho. A estes servos ou a esta igreja, fora enviado o Apocalipse bem como toda a mensagem das Sagradas Escrituras.
À igreja de Deus, portanto, foi revelado o Apocalipse no começo da história da era cristã. Desde a era apostólica até ao fim, a verdadeira igreja de Deus tem estado a par dos acontecimentos futuros da história secular e de sua própria história, através da grande revelação. Aqui nos é dada a razão por que os ímpios e mesmo a grande massa do cristianismo não podem entender o simbolismo do Apocalipse. Para entende-lo, é imprescindível ser servo de Deus, súdito de Sua igreja, e eles não o são e por tal motivo concebem ser o Apocalipse um livro esquisito, impenetrável, cujo significado, dizem, está ainda num futuro remoto. Os servos de Deus, porém, não encontram dificuldade nos símbolos do Apocalipse. O Espírito Santo de Deus lhes tem revelado sublimemente as lições proféticas encerradas em seus emblemas.
O ANJO DO SENHOR
A expressão – e pelo Seu anjo – trata de um anjo especial que é sempre comissionado pelo Senhor no que concerne a revelações de caráter sumamente importante. E neste sentido não somos deixados a tatear na incerteza, mas temos, nas próprias Sagradas Escrituras, uma definição deveras clara. Sabendo que as profecias de Daniel estão relacionadas intimamente com as do Apocalipse, perguntamos então: Quem era o anjo que assistia Daniel nas suas visões? Numa das visões concedidas ao velho profeta de Babilônia, uma grande voz fez-se ouvir transmitindo a seguinte ordem: “Gabriel, dá a entender a este a visão” (Dan. 8:16). Nos capítulos 8, 11 e 12 do livro de Daniel, é Gabriel o anjo que o Senhor comissionara para dar-lhe a entender visões que o profeta não conseguia entender. Foi Gabriel o anjo que fora enviado pelo Senhor a comunicar a Zacarias o nascimento de João Batista, em cuja ocasião definira-se o anjo dizendo: “Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus” (Luc. 1:19). Deste modo é Gabriel o anjo do Senhor enviado para assistir a S. João em suas visões do Apocalipse.
Maravilhosos são os degraus por meio dos quais chegou às mãos da Igreja cristã a mensagem do Apocalipse. Primeiramente Deus, a eterna Fonte do saber; depois Seu Filho Jesus Cristo, por Quem Ele, unicamente, se comunica com o pecador; a seguir o anjo Gabriel por Jesus incumbido de transmitir a revelação a João, e este, por sua vez, à Igreja do seu Senhor. Alegremo-nos por estes sublimes passos, pelos quais recebemos a preciosa mensagem do último livro das Escrituras Sagradas, que mais não é do que um lenitivo, conforto e bússola para os verdadeiros cristãos nestes turbulentos dias finais da história da civilização humana.
O PORTADOR HUMANO DO APOCALIPSE
VERSO 2 – “O qual testificou da Palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto”.
Este segundo versículo contem um eloqüente elogio ao apostolo amado. Queira Deus despertar em nós o senso de nossa responsabilidade cristã e da alta investidura com que fomos investidos para a santa comissão evangélica mundial, para que também nós, como S. João, sejamos alvos do eloqüente elogio celestial. Três razões são apresentadas segundo as quais o apostolo foi escolhido como veículo do Apocalipse à igreja do Senhor Jesus:
1. “O qual testificou da palavra de Deus”: - A palavra de Deus testificada por João são as Escrituras Sagradas do Velho e do Novo Testamento. O seu testificar foi em viver e pregar “a palavra de Deus” tal como em verdade ela o é, sem alterá-la no mínimo sequer. Daí afirmarmos que S. João foi um verdadeiro cristão, e um verdadeiro ministro do evangelho. Todo o verdadeiro cristão e todo o verdadeiro ministro do evangelho testificará, como S. João, na vida e na pregação, da “palavra de Deus” tal como ela se encontra nos dois Testamentos, sem aceitar nenhuma doutrina que não subsista à prova da “palavra de Deus”. Aproximadamente por setenta anos João viveu e pregou a pura “palavra de Deus”. O santo evangelho inspirado – sendo uma das razões especiais por que foi ele escolhido portador humano do Apocalipse para a Igreja de Deus, e também por que ele fez jus ao título de discípulo do amor. Que o exemplo de S. João leve a todo o sincero ministro do evangelho a viver e a pregar única e exclusivamente a “palavra de Deus” e ser também embaixador amado do Senhor Jesus hoje, como fora ele outrora.
2. “E do testemunho de Jesus Cristo”: - Conforme o Apocalipse define, “o testemunho de Jesus” é “o Espírito de Profecia”. Nos capítulos 12 e 19 versiculos 17 e 10 respectivamente, encontramos uma completa exposição sobre o assunto. Aqui, porém, por antecipação, urge dizer que o “testemunho de Jesus” ou o “Espírito de Profecia” é a inspiração de Jesus, por Seu Espírito, o Espírito Santo, a um instrumento humano, por isso mesmo chamado profeta. E S. João testificou de toda a inspiração concedida a todos os profetas, quer do Velho como do Novo Testamento, como real inspiração do Senhor Jesus, tendo ele próprio sido um dos grandes profetas pelos quais o “testemunho de Jesus” se manifestou à Sua igreja.
3. “E de tudo o que tem visto”: - Se o espaço permitisse, poderíamos fazer uma longa e pormenorizada explanação “de tudo o que” João viu. E quão gloriosas coisas viu ele! O evangelho que traz o seu nome testifica de inúmeras coisas gloriosas que ele vira. Os milagres, os ensinos, a transfiguração, a humilhação, a crucificação, a ressurreição, a ascensão e o grandioso amor do Salvador, bem como o poderoso Pentecostes e suas conversões em massa, foram gloriosas coisas que João viu “e de tudo” testificou. Sim, temos aqui a terceira razão apresentada por que fora ele o distinguido mensageiro do Apocalipse à igreja cristã. Oxalá todo o ministro de Cristo honre o Seu Mestre e testifique da maneira tríplice como João testificou, para que o cristianismo possa tornar aos seus áureos dias, os dias apostólicos.
UMA TRIPLICE BEM-AVENTURANÇA
VERSO 3 – “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo”.
UMA INESTIMAVEL BEM-AVENTURANÇA
Embora devamos ler, ouvir e guardar todas as revelações de Deus em todas as Sagradas Escrituras, há uma tríplice bem-aventurança reservada a todo o que lê, ouve e guarda a mensagem contida no Apocalipse. Em nenhuma outra parte da revelação encontramos uma benção tão categórica sobre a leitura, a audição e a pratica de uma revelação de Deus. Nisto, mostra-nos o Revelador do Apocalipse que a despeito dos que asseveram ser este ultimo livro da Bíblia um livro incompreensível, pode ser plenamente entendido. Pronunciaria Deus, porventura, uma tão gloriosa benção a quem lesse um livro impossível de ser compreendido, ou que, ouvindo-o, não o pudesse ler nem praticá-lo? Não, caro leitor. Deus, com Sua prometida benção, estimula-nos a estudarmos com fervor, a aceitarmos integralmente e observarmos “in totum” os ensinos do Apocalipse, para que sejamos felizes, bem-aventurados. Estimulados, pois, por Deus, a própria Fonte da inspiração, não devemos ouvir as oposições de homens incrédulos.
Posto que o Apocalipse seja um livro essencialmente profético cujas profecias devemos aceitar e crer, há também nele deveres revelados que devemos acatar e observar. À medida que formos estudando suas profecias sobre poderes políticos e religiosos opressores, encontraremos esses claros deveres que devemos cumprir para sermos dignos da preciosa bem-aventurança.
Todavia, há pessoas, e não poucas, que não querem ler o Apocalipse, apresentando para isto, desculpas sem valor, sendo uma delas, a mais comum, de que este livro ainda está fechado e ainda não nos é permitido conhecer o seu significado. A benção tríplice de Deus não é pronunciada para esta classe indiferente ao sagrado. Outros não querem ouvir nada sobre as profecias deste livro; não lhes interessa ouvir nada que julgam obscuro e incompreensível, também para estes não é a benção divina. E outros, embora leiam e ouçam, não lhes interessa a mensagem do sublime livro, e recusam observar os deveres que ele lhes impõe. Todas estas classes de incrédulos e cristãos indiferentes, não receberão jamais a tríplice bem-aventurança evidentemente ao alcance dos que lêem, ouvem e praticam os deveres exarados no grande livro.
A palavra bem-aventurança vem do grego “MAKARIOS”, e significa uma “felicidade celestial”. A pessoa bem-aventurada é “aquela que tem a felicidade do céu”. Noutros termos, ler, ouvir e praticar a mensagem contida no Apocalipse significa possuir o próprio céu. Aqueles que persistentemente recusam, de qualquer maneira, este livro, não só estão na falta da posse da bem-aventurança celeste como também excluídos do próprio céu. Eles, por se colocarem, por escolha voluntária, junto dos que se opõem ao Apocalipse, não pertencem ao povo de Deus para quem esta revelação é enviada. Excluídos por vontade própria da benção, não lhes resta senão uma horrenda recompensa que os surpreenderá no devido tempo. Oxalá se arrependam antes que tarde possa ser, e se volvam não só em aceitação da mensagem apocalíptica mas de todas as Escrituras Sagradas.
PORQUE O TEMPO ESTÁ PROXIMO
Eis uma outra grande razão por que devemos aceitar e observar a mensagem do Apocalipse. Uma vez mais é confirmada a verdade de que este livro pode ser plenamente entendido por quem desejar filiar-se ao povo de Deus. A tríplice bem-aventurança é já um apelo de Deus para que Seus filhos aceitem o maravilhoso livro, e creiam nele. Temos aqui um novo apelo para que eles, urgentemente, se decidam pelo livro sagrado. A proximidade do tempo quer dizer que, após o cumprimento da mensagem do Apocalipse, o fim seguramente virá. Suas profecias, cumpridas século após século, indicavam a nossos antepassados a aproximação do fim; e, nossa geração, que vê suas últimas previsões serem cumpridas, pode, na verdade, ter a certeza de que “o tempo está próximo”, que o fim do império do mal na terra é uma realidade iminente. Portanto, a bem-aventurança oferecida por Deus ao que ler, ouvir (dar ouvidos) e praticar o conteúdo do notável livro, tem sua razão de ser na proximidade do tempo final da história do mundo. Creiamos, pois, na gloriosa mensagem deste livro, vivamo-la, e seremos então dos bem-aventurados.
A SAUDAÇÃO DE DEUS À SUA IGREJA
VERSOS 4-8 – “João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte dAquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do Seu trono; da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a Ele a glória e poder para todo o sempre. Amém. Eis que vem com as nuvens, e todo o olho O verá, até os mesmos que O traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele. Sim. Amém. Eu sou o Alfa e o Ômega, o principio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso”.
AS SETE IGREJAS DA ÁSIA
A primeira vista, parece-nos que a saudação divina, através do profeta, dá a entender que na Ásia só havia sete igrejas cristãs, no tempo de S. João, e que unicamente a elas fora dedicada a mensagem contida no Apocalipse. Além das sete igrejas mencionadas no versículo onze, porém, havia mesmo na Ásia Menor, onde se encontravam as sete citadas, outras – algumas das quais mais importantes que algumas delas. Por exemplo: Havia além das sete referidas, - as igrejas da Galácia, às quais Paulo enviara uma das suas cartas; a igreja de Colosso que também recebera uma preciosa carta de Paulo; a igreja de Mileto que, a julgar pelo encontro de Paulo ali com os anciãos de Éfeso, era um importante centro do cristianismo; havia ainda a igreja de Troas, onde Paulo estivera sete dias com os irmãos dali (Atos 20:6); outras igrejas ainda havia na Ásia Menor, fundadas pelo apostolo Paulo: as de Perge, Icônio, Listra, Derbe, Antioquia da Pisidia e outras. S. Pedro fala de fiéis “eleitos” no Ponto, na Capadócia, na Bitínia, onde infalivelmente eram constituídos em igrejas. Além destas havia na Ásia outras igrejas mais importantes que as sete citadas no Apocalipse e que quaisquer outras já mencionadas. Por exemplo as igrejas de Antioquia da Síria e a de Jerusalém sobrepujavam a todas as demais. Entretanto todo o livro do Apocalipse é dedicado às sete igrejas, como dissemos, mencionadas no versículo onze, cujos nomes são os seguintes: Éfeso, Smirna, Pérgamo, Tiatira, Sardo, Filadelfia e Laodicéia.
Se o Apocalipse é uma mensagem de Deus só para estas sete igrejas, não deveriam existir outras e estas sete deveriam existir até agora e até a volta de Jesus. Mas estas sete igrejas não mais existem naquelas cidades da Ásia Menor, nem mesmo algumas destas cidades existem mais e as que existem tem outros nomes. E, se o Apocalipse era uma mensagem exclusiva para aquelas sete igrejas, naturalmente não fora dedicado às demais igrejas daquele tempo, nem às demais dos séculos futuros, nem à igreja de Deus deste nosso século. Por que, pois, o Apocalipse foi dedicado àquelas sete igrejas, e não às inúmeras outras que havia no tempo de S. João na Ásia, bem como na Europa e na África e, posteriormente, nos outros continentes?
Respondendo, preliminarmente, à pergunta acima, dizemos que cada uma das sete cartas enviadas às sete igrejas, contém no final a seguinte admoestação: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Isto nos leva a admitir que cada carta não é dirigida somente à igreja a que se destina, mas a muitas outras igrejas. Lembramo-nos que a comissão de Jesus aos apóstolos, de irem a todo o mundo proclamar o evangelho, implicava na fundação de igrejas em toda a terra e não apenas sete na Ásia. Além disso assegurou o Senhor estar com Sua igreja até ao fim, declaração esta que comprova o fato de as sete igrejas serem simbólicas de toda igreja cristã. E, tendo em vista o fato inegável de que Cristo tem no mundo uma só igreja, somos forçados a crer que as sete igrejas enunciadas, bem como a história de suas cidades, foram tomadas pela revelação como emblemas de toda a igreja cristã mundial em todos os séculos, desde os dias apostólicos até o segundo advento de Cristo. “O número sete, que indica perfeição e um todo completo” – é simbólico, do fato que a mensagem se estende até ao fim do tempo, enquanto os símbolos usados revelam a condição da igreja em diferentes períodos na história do mundo (Profetas e Reis, Ellen G. White, pag. 585).
“(....) nosso Senhor, por estas sete igrejas, mostra todas as igrejas de Cristo até ao fim do mundo; e pelo que Ele lhes diz, propõe mostrar qual será o estado das igrejas por todos os séculos, e qual o dever de cada uma” (Annotations upon the HollY Bible, Matthew Pool, Vol. III, pag.952).
“As sete igrejas representam sete fases ou períodos na história da igreja, alcançando da época dos apóstolos à vinda de Cristo outra vez, cujos característicos são de algum modo estabelecidos nos nomes destas igrejas, mas mais completamente nas cartas a elas endereçadas” (The Apocalypse, Joseph A. Seiss, Vol. I, pag. 130).
“As cartas às sete igrejas, à exceção do que é indubitavelmente histórico, tem tantas alusões evidentemente figurativas e místicas que a mais forte razão para aceitar o ponto de vista... que aquelas sete igrejas devem, profeticamente, mostrar-nos uma sétupla medida, e constituir o todo da igreja de acordo com as diversas épocas, disto justificando os emblemas das igrejas aqui mencionadas” (Behold He Cometh, A. J. Gordon, pag. 66-67).
“As sete devem ser consideradas como constituindo um todo completo, como dominando um perfeito ideal. Cristo... tendo em sua mão as sete estrelas, andando entre os sete castiçais de ouro... idealmente representando e manifestando, de algum modo ou outro, a universal igreja militante na terra” (The Seven Epistles, pag. 44).
Ao apreciarmos nos capítulos dois e três as sete cartas dirigidas às sete igrejas, verificaremos que cada período histórico da igreja, corresponde com muita exatidão à história das aludidas cidades da Ásia Menor que as simbolizam.
A SAUDAÇÃO DO DEUS TODO-PODEROSO
Deus, a Fonte de toda a benção e do Apocalipse, saúda a igreja de Seu Filho, e Sua também. Sua graça e Sua paz são enviadas à igreja, sem as quais ela não poderá subsistir e prosseguir triunfante em sua alta missão. Graça é misericórdia e amor. Desta maneira amorosa, benevolente e complacente, dá-lhe o Todo-Poderoso a certeza de Seu amparo e Seu cuidado constante. Paz é uma das maiores virtudes cristãs. É tão indispensável à igreja, que o Filho de Deus a deixou como uma dádiva inestimável a Seu povo (João 14:27). Deus apresenta-Se como “Aquele que é, e que era, e que há de vir”, para dar à igreja a certeza de Sua imutabilidade e da confiança segura que ela pode manifestar Nele. Também o Senhor Deus assegura à Sua igreja que “há de vir”. Sim Ele virá com o Seu Filho, ao vir Ele buscar Sua igreja para a eterna gloria. Jesus mesmo afirmou solenemente que virá “na Sua gloria, e na do Pai e dos santos anjos” (Luc. 9:26). O Pai quer alegrar-se pessoalmente no triunfo da igreja ao ser ela arrebatada do mundo para a santa cidade e para a gloria. Se anelamos contemplar o Pai ao vir Ele com o Filho, é indispensável que vivamos sob Sua graça e Sua paz com as quais tão graciosamente nos saúda.
A SAUDAÇÃO DOS SETE ESPÍRITOS DE DEUS
Os capítulos quatro e cinco fazem uma apresentação dos Sete Espíritos de Deus nos símbolos de sete lâmpadas de fogo, sete pontas e sete olhos, representando vivamente a sabedoria, o poder e a vigilância que Deus, por Seu Espírito Santo, exerce na terra especialmente para instruir, fortificar e guardar Sua igreja em meio aos perigos dos séculos. No emblema do número sete, é, portanto, assegurada à igreja de Deus a plenitude multiforme do poder divino.
SAUDAÇÃO DE JESUS CRISTO
Saudando Sua amada igreja apresenta-Se Jesus com os principais característicos de Sua pessoa. Em primeiro lugar é Ele a “Fiel Testemunha”. Quão gloriosamente testemunhou Ele do Pai, de Si mesmo e da verdade, quando na terra, dizem-nos eloqüentemente os evangelhos que relatam imaculada vida terreal. À Sua igreja desta geração apresenta-Se Jesus também como “Testemunha Fiel e Verdadeira”, para certificá-la de que tudo quanto testifica é verdadeiro e de que todas as promessas que lhe tem feito as cumprirá infalivelmente. Temos, portanto, um Salvador em Quem podemos confiar com inabalável segurança.
Em segundo lugar Jesus apresenta-Se como o “primogênito dos mortos”. S. Paulo denomina a Sua ressurreição como as “primícias” dos mortos, ou a ressurreição que assegura uma farta colheita de mortos que ressuscitarão do túmulo em Sua segunda vinda. É verdade que Ele não foi o primeiro que ressuscitou dos mortos. Outros ressuscitaram antes Dele, e Ele mesmo ressuscitou vários mortos em Seus milagres. Todavia, a Sua ressurreição, prevista no plano da salvação de Deus antes dos tempos dos séculos, foi a causa da ressurreição de mortos antes e depois dela, e será a causa da futura grande ressurreição dos santos em Sua segunda vinda (I Cor. 15:20-23).
Era necessário que Ele fosse o primogênito ou as primícias dos mortos para que “em tudo tenha a preeminência” sobre eles (Col. 1:18). Outras expressões paralelas apresentam o Salvador como “o primogênito entre muitos irmãos” (Rom. 8:29), e o “primogênito de toda a criação” (Col. 1:15). Adoremos pois, o “primogênito” que nos saúda e por Sua ressurreição garante a nossa ressurreição para a vida eterna.
Em terceiro lugar é Cristo o “Príncipe dos reis da terra”. Esta declaração de Sua saudação O coloca acima dos príncipes ou governantes do mundo. S. Paulo diz que Ele está “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século mas também no vindouro” (Efe. 1:21). O proprio Senhor disse aos apóstolos ao ressuscitar: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mat. 28:18). Como “Príncipe dos reis da terra”, tem Jesus supremacia sobre eles todos. Os monarcas do mundo são aconselhados por Deus a reverenciar Seu Filho como “Principe” de todos eles: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes, deixai-vos instruir, juízes da terra. Serví ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a Sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nEle confiam” (Sal. 2:10). Como Príncipe dos reis, é Cristo o herdeiro de todos eles. As profecias que a isto dizem respeito são muito evidentes (Sal 2:8-9). Todos os reinos do mundo passarão a Cristo como legitimo herdeiro (Apc. 11:15). Se os reis da terra acatassem o Filho de Deus como Príncipe deles, reinariam com Ele em Seu futuro reino; mas como dEle nada lhes interessa, serão desarraigados do mundo a perecerem para darem lugar à Sua eterna e gloriosa dominação (Apoc. 19:11-16).
Em quarto lugar assevera Jesus em Sua saudação que nos ama. Seu amor por Seu povo é eloquentemente demonstrado de inúmeras maneiras e sobrepuja ao amor de nossos mais íntimos familiares e amigos mais chegados. A supremacia de Seu amor foi demonstrada na dádiva de Si mesmo no maior sacrifício dos séculos. A um amor tão inigualável, só poderemos corresponder dando-nos a Ele em gratidão incondicional e indissolúvel.
Em quinto lugar Sua saudação notifica-nos que Ele “em Seu sangue nos lavou de nossos pecados”. “E o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (I João 1:7). Maravilhosa provisão feita para nossa inteira salvação. Que amor incomparável Jesus nos demonstrou! Sim, só o Seu sangue, e nada mais apaga os nossos pecados e nos purifica, lavando-nos completamente. É vão terem os homens indicado outro meio de lavar o pecado. Qualquer outro meio de purificação do pecador é considerado falso nas Sagradas Escrituras.
Em sexto lugar Seus seguidores são considerados reis, devido ao fato de reinarem com Ele no reino de Sua graça. Sendo eles constituídos num reino sacerdotal, são também sacerdotes (I Pedro 2:9). São sacerdotes porque Dele receberam a incumbência de levar pecadores a Ele, o Sumo Sacerdote, (...) (Rom. 12:1, Heb. 13:15-16, I Pedro 1:9, 2:15). Quando terminar o sacerdocio de Cristo, terminará também o deles, e reinarão eternamente com o supremo Rei. Então gloria e poder que só a Ele pertencem, todos os Seus santos súditos Lhe tributarão pelos séculos sem fim.
Em sétimo lugar, Sua saudação faz pela primeira vez menção de Sua segunda vinda, no Apocalipse, tão amplamente referida por todos os profetas e apóstolos. Seu segundo advento como aqui é apresentado, não poderá ser mistificado ou falsificado jamais. Ele advertiu do fato que alguns tentariam falsificá-lo, concentrando-se em desertos e no interior de moradias, mas que não deveríamos crer que seria Ele (Mat. 24:26). Outros creem que Ele virá em espírito, sendo isto flagrantemente falso. “Eis que vem com as nuvens e todo o olho O verá”. Enquanto toda a humanidade não O contemplar, conjuntamente, vindo com as nuvens, é porque Ele ainda não veio. Mas, quando Ele vier, até aqueles que O traspassaram ou que foram cúmplices do crime que Lhe infligiram, vê-Lo-ão com poder e gloria suprema, descendo dos céus. Os famigerados Anás e Caifás, os membros do Sinédrio, Pilatos, Herodes e todos quantos foram acérrimos inimigos Seus, ressurgirão do pó da terra para O verem em majestade, assomando à terra com as nuvens dos céus. A ressurreição dos piores inimigos do Seu tempo, será para a vergonha e desprezo eterno (Dan. 12:2). Inutilmente lamentarão o crime de deicídio que praticaram, para o qual não obterão perdão.
Em oitavo lugar, a saudação de Jesus diz que, ao surgir Ele em magnificente resplendor, as tribos ou nações da terra se lamentarão. As multidões que não prezaram o Senhor da gloria e nenhum caso fizeram de Seu santo evangelho, para salvarem-se, só terão a lamentar a escolha tresloucada que preferiram. Mas, os Seus escolhidos, que não perderam tempo com as coisas efêmeras deste mundo, antes deram ouvidos à verdade e amaram o Salvador, só terão que se regozijar naquele dia terrível para os Seus adversários (I Sam. 25:9).
Findando a Sua saudação, o Senhor Jesus apresenta-se como o “Alfa e o Ômega, o principio e o fim”. O “Alfa” e o “Ômega” são respectivamente, a primeira e a última letras do alfabeto grego, pois em grego foi escrito o Apocalipse e o Novo Testamento. Em toda a conversação usa-se o alfabeto em cujos extremos estão o Alfa e o Ômega. Por isso, toda palestra ou conversa do seguidor de Jesus deve começar com Ele e terminar com Ele. Em outras palavras, toda a linguagem do crente deve ter a Jesus como centro e ser-Lhe honrosa. Tudo, para que tenha um feliz principio e um feliz termo, deve começar e findar com Aquele que é o Alfa e o Ômega. “Sem mim”, dissera Ele, “nada podeis fazer” (João 15:5). O próprio universo começou com Jesus; “sem Ele nada do que foi feito se fez” (João 1:1-2). Na profecia da renovação de “todas as coisas”, Ele é ainda o Alfa e o Ômega, pelo que tudo tornará outra vez a seu glorioso estado de pureza e santidade virginais (Apoc. 21:6). Esta frase mágica – Eu sou o Alfa e o Ômega – é uma das maneiras chaves de Ele nos assegurar a Sua imutabilidade e que Ele é o Todo-poderoso.
“Amém” e “Amém”. Nesta saudação, encontra-se duas vezes, o vocábulo “Amém”. “Amém” quer no hebraico quer no grego, significa: assim seja, seja feito, verdadeiramente, fielmente. “Em história sagrada, Amém é formado das letras iniciais das três palavras Adonai, Melech e Neeman, que vale o mesmo que Senhor Rei Fiel, locução hebraica, mostrando a fé que se há de dar às promessas divinas” (Dicionário de Vieira, palavra “Amém”). Digamos pois, “Amém” à gloriosa saudação, tão cheia de amor e de gloriosas promessas. Digamos “Amém” a tudo quanto o Senhor de Nós pede e a nós promete – Amém.
SÃO JOAO NA ILHA DE PATMOS
VERSO 9 – “Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da Palavra de Deus, e pelo Testemunho de Jesus Cristo”.
“EU, JOÃO, QUE TAMBÉM SOU VOSSO IRMÃO”
Depois de o profeta apresentar a saudação da trindade à igreja, fala então de si mesmo, identificando-se plenamente com o povo de Deus. Ele preferiu o humilde titulo da família Cristã – irmão. Com isto demonstrou que perante Deus não há títulos nem posições que distingam uns dos outros, mormente na igreja onde “todos vos”, conforme dissera Jesus, “sois irmãos” (Mat. 23:8).
E companheiro NA AFLIÇÃO, E NO REINO, E NA PACIENCIA DE JESUS CRISTO: - Nos dias em que o apóstolo escreveu a revelação do Apocalipse, a igreja cristã era ferozmente perseguida pela espada do paganismo romano. Domiciano pretendia fazer afogar o cristianismo em sangue. Multidões eram sacrificadas e confiscados os bens dos cristãos. João procura animar a igreja ao enviar-lhe o Apocalipse da parte de Cristo, comunicando-lhe que também padecia pela mesma gloriosa fé. Ele não estava refugiado como um cobarde, não, mas a postos no seu dever como fiel porta-voz do seu amado Mestre. Por certo as palavras de João foram uma animação e conforto à igreja sob a aflição da perseguição.
Para maior ânimo dos irmãos, o apóstolo acrescenta que deles era também companheiro “no reino”. Evidentemente, referia-se ao futuro e sublime reino da gloria, posto que com a igreja vivia, como nós hoje ainda, no reino da graça. Todavia escrevera já Paulo às igrejas que “por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22); e que, “se sofrermos, também com Ele reinaremos” (II Tim. 2:12). E, mais adiante: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Tim. 3:13). Nos dias em que Paulo estas palavras escrevia à igreja, ela era paciente e cheia de fé, nas perseguições e aflições. Eis as suas palavras: “De maneira que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, por causa da vossa paciência e fé, e em todas as vossas perseguições e aflições que suportais; prova clara do justo juízo de Deus, para que sejais havidos por dignos do reino de Deus, pelo qual também padeceis” (II Tess. 1:4-5). A paciência do apostolo amado e da igreja, naqueles dias, porém, era a “paciência de Jesus Cristo”. Para que tenhamos uma ideia da paciência de Jesus, basta lermos Sua vida nos quatro evangelhos. E S. Pedro, para dizer-nos tudo em poucas palavras, da paciência de Jesus, assim escreveu. “O qual, quando O injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se Àquele que julga justamente” (I Pedro 2:23).
JOÃO ESTAVA NA ILHA DE PATMOS
A ilha de Patmos, hoje denominada Palmosa, é uma ilha do mar Egeu, próxima à costa da Ásia Menor. Conta apenas 40 Km² de superfície, sendo seu solo montanhoso, vulcânico, sem rios e pouco fértil. Ao tempo do império romano, Patmos era a ilha do desterro dos criminosos, principalmente políticos. João foi para lá banido no ano 94 A. D., por ordem do imperador Domiciano, para que naquela ilha, afinal, perecesse como um dos indesejáveis do império. Os motivos por que o apóstolo fora enviado a Patmos, ele mesmo no-los dá.
A CAUSA DO DESTERRO DE JOÃO PARA PATMOS
No versículo dois é salientado que João fora escolhido como portador do Apocalipse, em virtude de ter anteriormente testificado da “palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto”. Agora, neste nono versículo, o apostolo declara que, por causa da mesma palavra de Deus e do mesmo testemunho de Jesus Cristo, o baniram para a ilha de Patmos. Tal era o crime de João, que o tirano de Roma, Domiciano, pensava punir. O despótico César temeu a Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo emanantes dos lábios e da vida do fiel ancião. Aqui o que mais se salienta, porém não é o crime de Domiciano em face da idade do profeta, mas a firmeza e a certeza deste na Palavra de Deus e no testemunho de Jesus Cristo, a ponto de com alegria e resignação, sofrer tremendas crueldades e privações, em sua velhice, em defesa destes sagrados direitos de Deus e de Cristo. Vemos assim que o Apocalipse foi dado à igreja cristã através de perseguições e sofrimentos, pelo que devemos prezá-lo, aceitá-lo e vive-lo. O exemplo de João em sofrer galhardamente pela causa da verdade, deve contagiar a todo ministro de Cristo a também sofrer, se necessário for, em cativeiro ou não, em defesa da “Palavra de Deus” e do “Testemunho de Jesus Cristo”.
ARREBATADO EM ESPÍRITO NO DIA DO SENHOR
VERSO 10 – “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta”.
O Espírito Santo colocou João em estado de ver o sobrenatural. Corporeamente ele não saiu da ilha de Patmos. Outros profetas também passaram por idêntica experiência. S. Pedro diz duma visão que teve: “Sobreveio-me um arrebatamento de sentidos” (Atos 10:10). S. Paulo também declara: “Fui arrebatado para fora de mim” (Atos 22:17). Ambos, Pedro e Paulo como João foram colocados pelo Espírito Santo em estado de poder ver o sobrenatural, sem saírem, fisicamente, do lugar onde se encontravam. De um dos antigos profetas lemos o seguinte: “Então alçou a sua parábola e disse: Fala Balaão, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; fala aquele que ouviu os ditos de Deus, e o que sabe a ciência do Altíssimo: o que viu a visão do Todo-poderoso, caído em êxtases, e de olhos abertos” (Num. 24:15-16). Foi este o estado em que João recebeu as visões do Apocalipse, isto é, em êxtases, ou sob o controle do Espírito Santo. Nada em torno devia perturbar a atenção do profeta ao contemplar as gloriosas cenas, sendo portanto, indispensável um perfeito êxtase sob o Espírito de Deus.
“Eu fui arrebatado... NO DIA DO SENHOR”: - a construção da sentença – Dia do Senhor – do grego: “Kuriake hemera”, não deixa dúvida alguma de que o profeta refere-se a um dia de propriedade do Senhor. O vocábulo Kuriake é adjetivo possessivo, que está determinando o substantivo hemera, dia, como uma posse. Em outros termos, João faz alusão a um dia semanal que, antes da visão, ele considerava como dia do Senhor.
Ao fazer menção do “dia do Senhor” em que fora tomado em visão, João sabia indubitavelmente, qual era o “dia do Senhor”. As Escrituras Sagradas, com as quais João estava familiarizado, definem-nos com irrecusável exatidão sobre “o dia do Senhor” em que o Apocalipse foi revelado ao profeta. Hoje, ainda, o próprio Senhor nos diz com muita eloquência qual seja o Seu dia ou “o dia do Senhor”. O “dia do Senhor” não é qualquer dia que o cristianismo queira determinar, mas é aquele que o Senhor já tem determinado. Quando o Senhor fundou o mundo e deu a Sua lei ao primeiro homem bem como á humanidade, definiu nela qual seja o “dia do Senhor”, nestes termos: “Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus” (Exo. 20:10). Sim, quem fala é o próprio Senhor e não podemos duvidar nem contradizer Suas declarações e definições. Com evidencia que não pode ser jamais contestada, Ele define, no Decálogo, que o Sábado do sétimo dia é o “Dia do Senhor”. Mais tarde, por intermédio do profeta Isaias, falou mais o Senhor o seguinte: “Se desviares o teu pé do Sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo dia, e chamares ao Sábado deleitoso, e o santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras” (Isaias 58: 13). Notemos como o Senhor chama aqui o Sábado de “Meu santo dia” e “santo dia do Senhor”. E é maravilhoso que o Senhor do Velho Testamento é o mesmo Senhor do Novo Testamento, isto é, o Senhor Jesus. Quando pessoalmente entre os pecadores, Ele, de viva voz confirmou que o “dia do Senhor” no Novo Testamento era o mesmo do Velho Testamento. Notemos Suas palavras: “Assim o Filho do Homem até do Sábado é Senhor” (Marcos 2:28). A declaração de Jesus não pode ser posta em dúvida, sob pena de negar o Senhor. Assim estava João, perfeitamente familiarizado com “o dia do Senhor”, e não podia ter dúvida de que se referia ao Sábado do sétimo dia, quando escreveu ter sido “arrebatado em Espírito no dia do Senhor”.
Duas coisas são no Novo Testamento propriedades do Senhor: Uma é o Sábado – Kuriake hemera – “dia do Senhor”. E a outra é a Santa Ceia – kuriake deipnon – “Ceia do Senhor” (I Cor. 11:20). Ambas as declarações contêm a forma grega possessiva e exprimem – propriedade do Senhor.
Satanás, porém, não podia ver com bons olhos a menção do profeta, estabelecendo o Sábado como “dia do Senhor”. Faz ele crer aos cristãos que o “dia do Senhor” é o primeiro dia da semana. Mas faltam as provas concludentes desta sua satânica assertiva. Em toda a Bíblia não existe um único texto que faça menção do “primeiro dia da semana” ou domingo, como dia do Senhor. E a doutrina que a Bíblia não define ou sanciona, não é digna de crédito e deve ser repudiada. Doutro lado, se João quis referir-se ao “primeiro dia da semana” ao dizer que foi arrebatado em Espírito no “dia do Senhor”, então ele devia também ter considerado o “primeiro dia da semana” como “dia do Senhor” ao escrever o seu evangelho; pois o testemunho dos séculos, encabeçado por Irineu (175-200), comprova que S. João escreveu o seu evangelho em Éfeso, no ano 97 A. D., para onde fora depois da morte do tirano Domiciano, e, portanto, o escreveu depois de ter recebido o Apocalipse em Patmos.
“A Bíblia em parágrafos da Sociedade de Tratados de Londres”, diz a respeito o seguinte: “Segundo o testemunho geral dos antigos escritores, S. João escreveu seu evangelho em Éfeso no ano 97” (Los Videntes y lo Porvenir, L. R. Conradi, pag. 313). Mas o amado discípulo não deu qualquer título sagrado ao “primeiro dia da semana”, ao escrever depois do Apocalipse, o evangelho que traz o seu nome. Ele o chama simplesmente de “primeiro dia da semana” (João 20:1,19). Também Mateus, Marcos e Lucas não dão qualquer título sagrado ao “primeiro dia da semana”. Paulo, que é o único dos outros escritores do Novo Testamento que fala no “primeiro dia da semana”, não lhe dá igualmente título sagrado (Atos 20:7, I Cor. 16:2). Desta maneira, o “primeiro dia da semana” não é superior à segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira. Temos deste modo cinco testemunhos de que o “primeiro dia da semana” não é o “dia do Senhor”, pois como tal nenhum dos cinco evangelistas o mencionam.
A escolha do Sábado, “o dia do Senhor”, para a revelação do Apocalipse, revela a importância da sua mensagem. Uma inspiração do Criador, relativa a toda dispensação cristã, deveria estar ligada a Ele como Seu legitimo Autor, e, só o Sábado,, que O aponta a Seus filhos como Autor do mundo e do universo, poderia ser o dia apropriado e o único escolhido como data semanal da grande revelação.
“EU OUVI DETRÁS DE MIM UMA GRANDE VOZ COMO DE TROMBETA”
Como veremos mais adiante, a voz como de trombeta era a voz do amado Mestre de João. Sua meiga e adorável voz era-lhe agora diferente da do tempo em que com Ele andava pessoalmente na terra. Na terra ela era a voz do Cordeiro de Deus; mas ao ausentar-se do mundo, Sua voz recobrando o Seu estado de poder, faz-se, às vezes, ouvir como a voz do Todo-poderoso. Ao voltar Jesus, Sua voz abalará o céu e a terra, e porá em risco fatal o ímpio descuidado e rebelde aos reclamos de Sua divina lei.
UMA ENFÁTICA ORDEM A S. JOÃO
VERSO 11 – “QUE DIZIA: o que vês escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia, a Éfeso, e a Smirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardo, e a Filadélfia, e a Laodicéia”.
O amado João não foi desobediente a esta sagrada incumbência. Devia escrever a mensagem que seria mostrada, num único livro, e enviá-lo às sete igrejas. Não um livro para cada igreja, mas um só para todas elas. Isto comprova mais uma vez que as sete igrejas compreendem o todo da igreja cristã desde os apóstolos até à vinda de Cristo.
OS SETE CASTIÇAIS SIMBÓLICOS
VERSO 12 – “E me virei para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro”.
Segundo a interpretação do mesmo Senhor Jesus, no versículo vinte, os sete castiçais de ouro representam as sete igrejas, ou, como vimos, a igreja de Cristo em sua inteira história. É maravilhoso que os sete castiçais eram de ouro, o que nos leva a crer que o desejo de Deus era que Sua igreja fosse gloriosa em todos os sete períodos, e que entendesse o seu valor como igreja do Senhor não mudando seu aurífero caráter santo.
O ouro é emblema da fé, e a igreja cristã não só deveria ser gloriosa como o ouro, mas fervorosa, fiel e confiante na provisão de Deus e em Suas promessas.
É sublime que a igreja de Cristo tenha sido simbolizada por castiçais. E que é um castiçal? Um castiçal é um objeto portador de luz. Assim a igreja deveria ser no mundo portadora de luz, da mais gloriosa luz, da luz de Deus, de Seu Filho e do evangelho, da luz que salva, por cuja razão não poderia ser simbolizada por castiçais doutro metal.
NOSSO PODEROSO SUMO-SACERDOTE
VERSOS 13-16 – “E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de um vestido comprido, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos eram brancos como a lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; e os seus pés, semelhante a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E Ele tinha na Sua destra sete estrelas e da sua boca saia uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece”.
O FILHO DO HOMEM
João não tinha nenhuma dúvida ao referir-se à primeira pessoa que aparece nas cenas do Apocalipse, como o “Filho do Homem”. Ao contemplá-Lo sabia que, embora diferente dos dias em que andou na terra, era, indubitavelmente, o seu amado Mestre. Muitas vezes ouvira Jesus referir-se à Si próprio como “Filho do Homem”. Este título do Salvador é um dos que mais O identificam com a família humana. Quão glorioso é sabermos que Ele possui uma parte nossa para que nós possamos possuir uma parte Dele – a Sua divina pureza.
NO MEIO DOS SETE CASTIÇAIS
A visão dos sete castiçais constitui uma cena no lugar santo do santuário celestial. No lugar santo do santuário israelita, a igreja cristã futura era representada no castiçal com sete braços nos quais ardiam sete luzes. O Velho Testamento dá-nos uma fascinante descrição deste castiçal de ouro puro, que convém apreciar detidamente (Exo. 25:31-40).
No meio dos sete castiçais de ouro João viu o “Filho do Homem”, como figura central da primeira visão. A posição de Jesus nesta cena, demonstra que Ele não tem estado alheio à Sua igreja em tempo algum, mas que com ela tem convivido até ao presente. Sua presença tem acompanhado Sua igreja militante, o que é motivo de regozijo e confiança para ela. Ele “está em constante comunicação com Seu povo. Conhece sua real condição. Observa sua ordem, sua piedade e sua devoção. Ainda que é o Sumo Sacerdote e Mediador no santuário celestial, Se representa como andando daqui para lá no meio de Sua igreja na terra. Com incansável desvelo e constante vigilância, observa para ver se a luz de alguns de seus sentinelas arde debilmente ou se apaga. Se o castiçal fosse deixado ao mero cuidado humano, a vacilante chama enfraqueceria e morreria; porém, Ele é o verdadeiro sentinela na casa do Senhor, o verdadeiro guardião nas cortes do templo. Seu constante cuidado e sustentadora graça são a fonte da vida e da luz” (Os Atos dos Apostolos, Ellen G. White, pag. 420). Assim toda a igreja deve ter presente que nada se furta a Seu olhar de perscrutador, pelo que a cada momento deve estar cônscia do seu compromisso perante Ele assumido, sob pena de ser chamada a contas.
JESUS NOSSO SUMO SASERDOTE
Ao deparar Jesus no meio dos sete castiçais, evidencia-nos o profeta que Ele, ao subir ao céu, iniciou o seu ministério no lugar santo do santuário, ou primeiro compartimento.
Como oficiante no santuário celestial, Jesus é visto nesta visão com uma só veste sacerdotal, branca, que reúne as vestes do sacerdote comum nos dias úteis e a do sumo sacerdote, no dia da expiação, no lugar santíssimo, isto é, “vestido até aos pés com um vestido comprido, e cingido pelo peito com um cinto de ouro” (Exo. 39:27,29). “Como o sumo sacerdote punha de parte suas suntuosas vestes pontificais, e oficiava no vestuário de linho branco do sacerdote comum, assim Cristo tomou a forma de servo, e ofereceu sacrifício, sendo Ele mesmo o sacerdote e a vítima” (o Desejado de Todas as Nações, Ellen G. White, pag. 17).
Até 1844 realizara Jesus, no lugar santo, o oficio diário do sacerdote comum; e de 1844 até agora, o oficio anual do sumo sacerdote, no lugar santíssimo. A igreja cristã verdadeira, pois, tem um santuário e um sacerdócio, cujo único Sacerdote e Sumo sacerdote, bem como vítima sacrifical, é o próprio Salvador. Sobre o santuário veja-se ainda o capítulo 11 versículo 1 e 2.
A MAJESTADE SUPREMA DE JESUS
João havia visto muitas vezes a Jesus em Sua humilhação. Diariamente O via como um homem pobre e humildemente trajado, não tendo onde reclinar a cabeça nem onde encontrar uma refeição a tempo e segura. Via-O ofendido pelos de Sua nação e desprezado pelos homens. “Ele havia visto a seu Mestre no Getsêmane com o rosto marcado com o suor do sangue de Sua agonia; ‘Seu parecer era tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a Sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens’ (Isa. 52:14). Ele O viu nas mãos dos saldados romanos, vestido com um velho manto purpúreo e coroado de espinhos. Havia-O visto pendurado na cruz do Calvário, o objeto de cruel escárnio e abuso. Agora a João é permitido, uma vez mais, contemplar a seu Senhor.
Mas quão diferente é a Sua aparência! Não é mais um homem de tristezas, desprezado e humilhado pelos homens” (Os Atos dos Apostolos, Ellen G. White, pag. 417).
A cabeleira de Jesus é agora semelhante à do Pai (Dan. 7:9), não pela idade, pois o eterno não conta tempo algum, mas pelo “resplendor da gloria celestial”.
Os olhos do Salvador, porém, eram como “chama de fogo”. Daniel contempla-O nesta Sua majestade e descreve que os Seus olhos eram “como tochas de fogo” (Dan. 10:6). Nada e ninguém pode furtar-se a Seus olhos penetrantes; antes tudo, em toda a Sua criação, está evidente perante Suas vistas perscrutadoras. Inútil é para o homem ocultar suas más obras. Não poderá jamais esquivar-se perante os olhos do supremo Juiz.
Os pés do Salvador já não são mais aqueles pés cobertos de poeira das estradas da Terra Santa. Agora são “semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha”. Daniel descreve Seus pés “como cor de bronze açacalado” ou polido (Dan. 10:6). Sim, Seus pés são pés limpos, incontaminados, figura de que Ele palmilhou sempre caminhos puros, de justiça. Seus seguidores não deverão ter pés diferentes, a menos que queiram perder-se eternamente. Aqueles que esperam entrar no céu e desfrutar a feliz eternidade prometida, devem esquivar-se dos caminhos do pecado, e purificar seus pés no caminho da pureza e justiça, imitando o jornadear do Mestre. Na fornalha desta vida de lutas devem purificar os pés do caráter e igualá-los aos do Salvador.
Mas ai! A voz do Mestre não é mais aquela voz branda e delicada! Sua voz é agora “como a voz de muitas águas”. Para Daniel, era “a voz das Suas palavras como a voz duma multidão” (Dan. 10:6). Sua humilde voz de “Cordeiro de Deus” transformou-se em a voz do Todo-poderoso. Ao voltar Jesus, Sua voz, ao fazer-Se ouvir como a “voz de muitas águas” e “como a voz duma multidão”, abalará os céus e a terra, pondo em risco fatal a vida do ímpio descuidado aos reclamos da Sua divina lei.
Da Sua boca saia uma aguda espada de dois fios. Esta espada não é uma espada real, de aço, mas simbólica “do poder de Sua palavra” (Heb. 4:12). No capítulo dezenove é referido que com esta espada, ao volver Ele à terra, ferirá as nações rebeladas contra Ele, para restaurar no mundo a justiça e a ordem por elas pervertidas.
Para completar o quadro de Sua tremenda majestade, “o Seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece”. Daniel diz que “o Seu rosto parecia um relâmpago” (Dan. 10:6). Já os Seus olhos são descritos “como chama de fogo”. Em virtude do resplendor fulminante de Seu rosto, os ímpios, em Sua vinda, procurarão em vão clamar às montanhas: “Caí sobre nós e escondei-nos do rosto Daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (Apoc. 6:15-16). Serão aniquilados “pelo resplendor da Sua vinda” (II Tess. 2:8). A Moisés que desejou ver a Sua face, replicou Ele: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a Minha face e viverá” (Exo. 33:20). Eu e tu, leitor, carecemos de um preparo perfeito para podermos, afinal, estar em pé diante do “Filho do Homem” (Luc. 21:36). Não devemos conformar-nos com preparativos de palavras ou segundo nosso próprio juízo. Não poucos cristãos há que pretendem ver logo a Jesus vindo em poder e gloria. Mas, infelizmente, estão vivendo em plena desarmonia com Sua vontade, pisando abertamente Sua divina e santa Lei. Surpresas cruéis trará o segundo advento de Cristo a estes descuidados crentes que, fundados no fato de que Ele é amor, julgam que os salvará e negligenciam o devido preparo.
JOÃO CAI COMO UM MORTO
VERSOS 17-18 – “E eu, quando O vi, caí a Seus pés como morto; e Ele pos sobre mim a Sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu Sou o primeiro e o último; Eu o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno”.
Vencido pela majestade de seu Augusto Mestre, João cai fulminado a Seus pés. Aquele que pudera reclinar-se sobre Seu peito, não pode mais olhar para Ele. Temos neste incidente uma viva advertência: Se o discípulo amado não resistira à presença de seu Senhor glorificado, temamos e estejamos preparados, sem demora, pois logo estaremos também em Sua majestosa presença, ante Seus “olhos de fogo” chamejante e de Seu rosto “como o sol” abrasador.
Mas o compassivo Salvador não permitiu que Seu discípulo estivesse como um morto a Seus pés. Aquele que fora até ali conservado para contemplar a história da igreja e a ela enviá-la, não deveria permanecer inerte em Sua presença. A destra do Mestre repousou imediatamente sobre Seu querido apóstolo, e ele foi “fortalecido para viver na presença de Seu senhor glorificado”. Com uma voz não mais “de trombeta”, não mais de “muitas águas”, não mais “duma multidão”, - mas amorável e melodiosa, o Senhor lhe diz: “Não temas”. Sob Sua palavra de poder não devemos temer nada e ninguém. Não devemos temer quaisquer circunstâncias. Não devemos temer nem os homens nem os demônios. Ninguém contra Ele poderá batalhar e ninguém nos arrebatará de Sua “destra” se Nele confiarmos até ao fim.
A João, dá Jesus outra razão porque podemos confiar Nele com segurança. Ei-la: Sua vitória sobre a morte e o Hades, a sepultura. Eis nossa mais alentadora segurança em Cristo. Temos um Salvador vencedor e triunfante nos próprios domínios do imperador da morte (Heb. 12:14). A morte e seu autor são inimigos vencidos, aniquilados. O Filho de Deus, nossa Esperança, arrebatou do cruel imperador “as chaves da morte e da sepultura”. O arquicriminoso pode reter na tumba os Seus queridos, mas apenas por um momento. As chaves das suas masmorras fatídicas lhe foram arrebatadas por um mais poderoso do que ele e seus presos serão libertados. O Redentor tem agora domínio absoluto sobre a região da morte, os domínios de Seu tenaz inimigo vencido. Jesus comprometera-Se salvar Seu povo e assegurou-lhe a vitória imperecível. Os amados do Senhor estão, pois, encerrados provisoriamente no cárcere da morte. Logo Ele lhes abrirá as portas e sairão vitoriosos. Sim, caro leitor, podemos confiar incondicionalmente num Salvador morto sim, mas vitorioso da morte, para nos arrebatar da cadeia do inimigo, se para ali formos levados antes que Ele venha. O triunfo de Cristo sobre as potestades da morte assegurou-nos uma gloriosa vitória com Ele para sempre.
Como o velho Jó nos seus dias, devemos regozijar-nos na certeza inconfundível dum Redentor redivivo (Jó 19:25).
“Reichal, o grande maestro, estava treinando seu coro para cantar “O Messias”. O coro havia cantado até o ponto em que toma o refrão: ‘Eu sei que o meu Redentor vive’. A técnica da solista era perfeita – nada faltava, a enunciação era esplêndida... Quando a última nota silenciou, todos os olhos se voltaram para Reichal, esperando sua aprovação. Ao invés disso ele chegou-se à cantora e com os olhos tristes disse calmamente: ‘Minha filha, tu não sabes que o teu Redentor vive, sabes?’ Ela corou e respondeu: ‘Pois sim, acho que sei’. Então canta, disse Reichal, de tal maneira que todos quantos te ouvem fiquem convencidos que sabes o gozo e poder do fato. Em seguida deu sinal à orquestra para repetir. Quando a cantora terminou desta vez, o velho maestro aproximou-se dela com lagrimas nos olhos e lhe disse: - ‘Sabes de fato, pois agora mo disseste’” (I Cor. 15:6).
Vivamos de tal modo a dar a todos a certeza de que nosso Redentor vive – de que Ele vive em nós. Sejamos pois, a Ele leais e amemo-Lo acima de tudo, para que sejamos Dele e Ele nosso eternamente.
UMA ADVERTENCIA AO PROFETA
VERSO 19 – “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer”.
João devia tomar muito cuidado para que a Igreja não fosse privada, nem no mínimo, da revelação da ilha de Patmos. Noutras palavras, ele foi advertido a ser fiel porta-voz de seu Senhor à Sua igreja. Assim são também advertidos todos os ministros do evangelho a serem fiéis em sua sagrada missão. Não há nada mais desagradável a Deus e a Jesus do que a infidelidade de seus mensageiros. Que os embaixadores do Senhor, do presente, atendam à advertência e deem a mensagem com acurada fidelidade.
O MISTÉRIO DAS SETE ESTRELAS
VERSO 20 – “O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas”.
“Cristo foi apresentado sustendo as sete estrelas em sua destra. Isto nos assegura de que nenhuma igreja que seja fiel à sua missão necessita temer a destruição; porque nenhuma estrêla que tem a proteção do Onipotente pode ser arrebatada da mão de Cristo.
“’O que tem as sete estrelas na Sua destra... Diz estas coisas’. Estas palavras são dirigidas aos mestres da igreja, àqueles aos quais Deus confiou pesadas responsabilidades. As doces influencias que hão de abundar na igreja estão vinculadas, estreitamente, com os ministros de Deus, que devem revelar o amor de Cristo. As estrelas do céu estão sob Sua direção. Enche-as de luz; guia e dirige seus movimentos. Se não o fizesse, chegaria a ser estrelas caídas. Assim é com seus ministros. São instrumentos em Suas mãos, e todo bem que podem fazer é realizado por meio do poder divino. Por meio deles se difunde a luz do Salvador, que deve ser sua eficiência. Se tão só olhassem a Ele como Ele olha ao Pai, seriam capacitados para fazer Sua obra. Quando dependerem de Deus, Ele lhes dará Seu resplendor, para refleti-Lo ao mundo” (Os Atos dos Apostolos, Ellen G. White, pag. 420).
“Lembrem-se aqueles que são como as estrelas na mão de Cristo, que devem cultivar sempre uma sagrada e santa dignidade. Eles são os representantes de Cristo. A simplicidade em Cristo é a pura e sagrada dignidade da verdade”. “Os servos de Deus devem pregar a Sua palavra ao povo. Sob a operação do Espírito Santo, eles por-se-ão em ordem como as estrelas na mão de Cristo, para brilhar com Seu esplendor” (Testemunhos para a Igreja, Ellen G. White, Vol. VI, pag. 614).
É um vivo privilégio para os ministros do evangelho serem considerados como astros brilhantes. Disse Gabriel a Daniel: “Os entendidos pois resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente” (Dan. 12:3).
Assim não devem os ministros de Cristo seguirem o curso que bem entenderem e agir por si mesmos, mas dependerem inteiramente da inspiração e do poder do seu Mestre. Se forem fiéis ao sagrado mister que lhes foi confiado, terão do mestre a honra; mas, se não cumprirem fielmente a sagrada missão que se lhes confiou, serão jogados fora pela mesma mão que os sustém. Lembrem-se os ministros do desejo de Deus: Uma igreja tão gloriosa como um castiçal de ouro e um ministério tão fiel e tão puro como as estrelas e os anjos. Se os ministros chegassem ao ponto de não mais refletirem a gloria de Cristo, a igreja deixaria de ser um glorioso castiçal.
Texto Extraído do livro "A VERDADE SOBRE AS PROFECIAS DO APOCALIPSE" - A. S. Mello