sábado, 14 de abril de 2012

Cap. 03 - As Sete Igrejas

CAPÍTULO  III

As sete Igrejas

INTRODUÇÃO

O capítulo três conclui a primeira visão do Apocalipse. Com ele chegamos ao fim da história profética interna da igreja cristã. Os quatro primeiros períodos simbolizados pelas igrejas de Éfeso, Esmirna, Pérgamo e Tiatira, cobriram um total de quinze séculos, desde a era apostólica ao advento da Reforma. Os três restantes períodos, contidos no capítulo agora em consideração, ligados aos símbolos das igrejas de Sardo, Filadélfia e Laodicéia, cobriram já mais de quatro séculos, desde os primórdios da Reforma até nossos dias.

Pelos fins do primeiro período e durante o segundo e o terceiro, a igreja viveu seus trágicos dias ao deixar, pouco a pouco, esmaecer-se a gloriosa tocha que recebera das mãos dos apóstolos de Cristo. No quarto período, sob a suserania e oposição do papado, a luz quase esteve oculta, limitando-se às montanhas alpinas, com a “igreja do deserto”, do capítulo doze. Porém, do quinto período em diante, a luz começa a recobrar a sua força primitiva em toda a parte, até que, no sétimo período, atinge a sua perfeição e grandeza apostólicas, ainda que a igreja não tenha alcançado a experiência para a qual fora chamada por Deus. 

   

A  IGREJA  DE  SARDO



VERSOS 1-6 –

“Ao anjo da igreja em Sardo escreve: Assim diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto.

Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei.

Mas também tens em Sardo algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome diante de Meu Pai e diante de seus anjos.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.





A CIDADE DE SARDO





Sardo era uma cidade da Ásia Menor, situada no sopé setentrional do monte Tmulos, a 75 km do mar Egeu, edificada sobre uma rocha desmoronável a 1500 pés de altura. As quase perpendiculares muralhas da elevação em que fora construída, fazia-a parecer inexpugnável. Havia somente uma estrada que parecia ser facilmente guardada.  Sobre confidência, contudo, durante o reinado de Cresso, levou à captura da cidade de Sardo por Ciro, 549 A C. Um dos seus soldados escalou a rocha numa escura noite quando os guardas não estavam vigiando. Entrando na Cidade, ele abril as portas aos persas. A mesma coisa foi repetida nos dias de Antioco, o Grande, 219 DC.

A data de sua fundação é desconhecida. Sua origem como cidade importante e capital do reino histórico da Lídia deve remontar ao IX século antes de Cristo, crendo-se que foi edificada pelos reis lídios da dinastia dos Sandonidas. Os dias áureos de Sardo foram atingidos sob a realeza de Cresso, o rei do ouro em seu tempo. Este monarca dotou-a duma magnificência rara. A riqueza acumulada em Sardo pode-se julgar pelos imensos regalos de Cresso a inúmeros templos do paganismo no país e no exterior. No período romano, porém, Sardo foi de pouca influência.

A cidade de Sardo, embora famosa por suas riquezas e seus monarcas, teve uma história física e política acidentada. Foi tomada grande número de vezes por exércitos inimigos. Dario Histaspes incendiou-a para punir uma revolta; levantada das ruínas, prosperou sob os sucessores de Alexandre. Antíoco da Síria a tomou e a incendiou pela segunda vez. Sob Tibério sofreu um terremoto tendo-a César erguido das ruínas. Tamerlão destruiu Sardo em 1402. Estes foram alguns dos muitos reveses que sofreu a cidade até que sua decadência se acentuou e feneceram sua glória e sua fama. Hoje subsistem apenas ruínas da pujança de Sardo de outrora incluso da tríplice muralha que a defendia.

A gloria de Sardo está toda no passado. Dana a descreve como um exemplo de aristocracia aniquilada. A descrição de Emerson é impressiva:

“Havia mais variedade e vívida lembrança associadas com o espetáculo de Sardo, do que podia possivelmente, atrair algum outro pequeno lugar na terra; mas tudo estava mesclado com um sentimento de desgosto na pequenez da glória humana... tudo, tudo se tinha dissipado! Havia diante de mim os templos de uma religião morta, as tumbas de monarcas esquecidos, e a palavra que ondulava nos salões de banquetes dos reis; enquanto o sentimento de desolação era dolorosamente aumentado pelo calmo e suave firmamento acima de mim, que, em seu imarcessível esplendor, brilhava tão puramente agora como quando irradiou sobre os áureos sonhos de Cresso”. Etsudies in Revelation, R.A. Anderson, pág. 16.

Sart, a moderna Sardo, é uma aldeia com poucas casas e algumas tendas de tribos nômades.



A IGREJA DE SARDO



A carta de Sardo liga-se ao quinto período da igreja cristã, que mediou entre os anos 1517 e 1821.

Por definição a palavra Sardo é Cântico de Alegria. Alguma coisa aconteceu em prol da igreja perseguida. Daniel, referindo-se àqueles maus tempos para a igreja, diz na sua profecia que ela seria ajudada com um “pequeno socorro” (Dan.11: 34), um auxílio, aliás, que lhe trouxe alegria e levou-a a uma outra fase ou período histórico. Uma vez que Éfeso abrangeu o período apostólico; Smirna o dos mártires das perseguições do paganismo; Pérgamo o dos imperadores de Constantino a Justiniano; Tiatira o das perseguições de Jezabel, de Roma Papal, Sardo deve, inquestionavelmente designar, de acordo com o quinto selo, a Igreja da Reforma ou o Protestantismo. Todos os comentadores convêm que Sardo, fora de toda dúvida, é emblema da Reforma e sua obra se manifesta nas igrejas protestantes que dela resultaram; pois nenhum outro sucesso do cristianismo se identifica tão perfeitamente bem com a carta de Sardo como o da Reforma e suas conseqüências. Indubitavelmente foi a Reforma, uma “Sardo” ou um “Cântico de Alegria” para a igreja que gemia sob o tacão das perseguições impiedosas do papado. Mas infelizmente e para vexame do Salvador, esta igreja de Sardo, que ainda hoje existe, está entregue a si mesma, jactando-se de pertencer a Cristo e no entanto ignora, talvez a seu gosto,  que já dois outros períodos da igreja cristã surgiram depois de si, com outros nomes.  Como a cidade de Sardo outrora se ufanava do esplendor que lhe dera Cresso, a igreja de Sardo orgulha-se de seu berço – os Estados Unidos Protestante.



O  ANJO  DA  IGREJA  DE  SARDO



Sobre este anjo, veja-se o anjo da igreja de Éfeso. O ministério de Sardo afastou-se de tal modo do exemplo apostólico, que hoje não mais expõe nem vive o puro evangelho de Cristo. Mesclou a divina revelação com as tradições humanas e filosofias da falsa chamada ciência a pouco transparecer da beleza da inspiração. Nenhuma carta enviada por Cristo à sua igreja, nos períodos anteriores, é tão acusatória como a de Sardo. Basta que a carta acuse esta igreja de morta, de serem imperfeitas as suas obras e de ter esquecido a verdade recebida, para tudo dizer-se de sua triste história e condição. Foi deveras pesaroso a Cristo, enviar-lhe a carta que lhe corresponde. Todavia ela carecia de conhecer o seu estado e o mundo também devia ser cientificado de suas obras e sua rejeição.



COMO CRISTO SE APRESENTA  À IGREJA DE SARDO



A Sardo introduz-se Jesus como aquele “que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas”. Compreendemos que Cristo se apresenta à igreja com a plenitude do poder que põe a seu inteiro dispor. Mas também notifica a igreja que seu ministério, representado nas sete igrejas, Ele o tem em sua mão. Em resumo, ou a igreja lançaria mão do imenso poder do Espírito Santo que Cristo lhe oferecia, ou o seu ministério perderia o direito ao símbolo de estrela e seria abandonado e, com ele a própria igreja.



EU SEI AS TUAS OBRAS



Mais uma vez surge esta impressionante proposição do Senhor Jesus. Não só o Senhor diz saber as obras de Sua igreja como as menciona, tanto as boas como as más, em cada período. Ele aprova e se alegra com as boas obras da igreja e reprova e entristece-se com as suas más obras.



“TENS NOME DE QUE VIVES E ESTÁS MORTO”



A cidade de Sardo bem podia ser chamada – a Cidade da Morte. Quão grandemente enganado pelo inimigo estava e está o anjo da igreja de Sardo. Julga-se estar vivo enquanto o Filho de Deus lhe diz que está morto, e com ele a sua igreja. Não poderá haver pretensão mais enganosa do que esta. Um morto que pensa estar vivo! Um ministério morto só poderá produzir uma igreja morta, mas, quando é que uma igreja pode-se considerar estar morta?  A resposta é simples e categórica: Quando não tem mais a Cristo ou quando já O perdeu de vistas. Disse S. João: “Quem tem o Filho de Deus tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1º S.João 5:12). É este o estado profético e real do Protestantismo. Notemos os testemunhos do próprio meio do Protestantismo:

“Se perguntasse: Em que tempo nos achamos? Onde estamos? E que há de ainda vir à luz? Como fiel atalaia, dar-vos-ei o melhor relatório que possa. Eu creio que nos achamos no estado da igreja de Sardo, na última parte, o qual produziu a Reforma, e a representa. Achamo-nos no declínio desse estado, e muitas coisas que se dizem dessa igreja concordam conosco, como seja essa de que temos nome de que vivemos e estamos mortos, etc. Estamos numa espécie de crepúsculo, entre o claro e o escuro, entre o dia e a noite” (Sermão pelo Dr. John Gill, 1748, Second Advent Library, Nº 1, pag. 209).

(...)

Quão elevada fora a posição primitiva de Sardo, nos começos de seu período, perante o mundo! Que maravilhosa obra realizaram os primeiros reformadores na restauração da verdade morta pela igreja de Roma. Lutero disse: “Em nome de Deus hei de ir contra os leões, e esmagar debaixo de meus pés os dragões e as víboras. Isto começará durante a minha vida e se concluirá depois de minha morte” (História da Reforma, D’Aubigné, Vol. I, pag. 231). Mas a luz que lhe fora entregue por aqueles servos de Deus, não foi por ela aumentada nem seguida, antes abandonada. Desaparecidos aqueles baluartes, desenvolveu-se na igreja o orgulho e a polaridade a ponto de a vida espiritual desaparecer. A linha de demarcação entre a igreja da Reforma e o mundo deixou de existir. E para apressar a sua desgraça, a igreja protestante uniu-se ao Estado. Esta união profana com os poderes políticos foi o principal fator de sua decadência espiritual.  Amparado no braço secular, o Protestantismo de Sardo enfrentou com a espada de aço a igreja de Roma que lhe declara guerra aberta, e os rios de sangue ensangüentaram o solo europeu.

Parece-nos inacreditável que a igreja que ergueu a tocha flamejante do Evangelho de Cristo nos escuros séculos; que a Bíblia ao povo na sua língua vernácula; que empreendeu a fundação de importantes sociedades bíblicas e de tratados e fundou as primeiras missões que se destinavam à evangelização dos pagãos – seja considerada morta pelo Grande Médico que não teve dúvidas em dar-lhe o atestado de óbito. A igreja que acusa ainda hoje a de Roma por suas falsas doutrinas e seu estado de corrupção da fé, não está perante Deus em melhor situação.  Está morto o protesto que os príncipes protestantes apresentaram na dieta de Espíra, em 19 de Abril de 1529, donde procede o nome “protestante”, e que “ constitui a essência do Protestantismo”. Notemos abaixo o famoso protesto agora morto:

Resolvemos com a graça de Deus, manter a pura e exclusiva pregação de Sua Santa palavra, tal como está contida nos livros bíblicos do Velho e do Novo Testamentos, sem acrescentar alguma coisa que possa contrariá-la. Esta palavra é a única verdade; é a regra segura de toda doutrina e de toda vida, e jamais pode falhar ou enganar-nos. Aquele que edificar sobre este fundamento permanecerá contra todos os poderes do inferno, enquanto todas as vaidades humanas erguidas contra ela cairão perante a face de Deus(History of the Reformation, D’Aubigné, Vol. IV, pag. 6,13 cap. 6).

Mas quão diferente deste solene protesto está hoje o protestantismo da igreja de Sardo! Sua vida e sua pregação estão longe de Espíra. Nem mais a pura pregação ‘de Sua santa palavra’, nem mais ela como “regra segura de toda doutrina e de toda a vida” é hoje o seu alicerce! Não é, pois, de admirar, a grave denúncia de Cristo na carta dirigida a esta igreja. Sardo estava à morte. Sardo não mais pertencia de todo a Jesus Cristo.



“SÊ VIGILANTE, E CONFIRMA OS RESTANTES,

QUE ESTAVAM PARA MORRER“



Quão impressiva é esta exortação à igreja moribunda. (...). O vocábulo “morrer” do grego “apothnesko”, tem também o sentido de – morte espiritual (I Cor.15:31). A igreja é estimulada a fortalecer ou confirmar as coisas espirituais que ainda restavam em si, e que estavam a ponto de desaparecer em meio à apostasia. Quando o coração de alguém para de bater, esse alguém está morto. Todavia alguma vida continua nos seus tecidos por algum tempo até que de todo se extinga. Semelhante fato sucedeu na igreja de Sardo: Declarada morta pelo Grande Médico, alguma coisa viva ainda continuou pelo apego nominal a alguma verdade bíblica, embora não lhe desse o devido valor. Nestas coisas foi a igreja advertida a confirmar ou restabelecer praticando-as, por que, assim procedendo, tornaria novamente à vida real verdadeira. Mas a Sardo protestante preferiu desatender o divino conselho e continuou morta até quase extinguir-se totalmente e não haver mais remédio.





PORQUE NÃO ACHEI TUAS OBRAS PERFEITAS

DIANTE DE DEUS



Esta é a segunda grande denuncia de Cristo à igreja de Sardo. Em vez dum elogio geral como no caso das igrejas anteriores, Sardo só merece acusação. Quão comprometedor o seu estado espiritual! Enquanto se jatava de ter desmascarado a igreja perseguidora, por seus erros e de a ter denunciado como Babilônia, sua situação era precária  em face de suas obras imperfeitas. Sua desastrosa condição, até nossos dias, é devido à sua conformação aos métodos humanos. As inúmeras seitas em que se dividiu a Sardo protestante é inolvidável cumprimento de tudo quanto encerra a sua carta profética.



UM APELO E UMA ADVERTÊCIA



Em primeiro lugar Sardo é exortada a lembrar-se do que recebera e ouvira. Naqueles dias de trevas emanantes de Roma, Sardo recebera no seu castiçal a pura luz do evangelho de Cristo que lhe fora entregue pêlos primitivos baluartes vigorosos da reforma. Sardo ouvira maravilhas dos lábios daqueles poderosos servos de Deus, guiados por Seu espírito. E a igreja é exortada a guardar, a viver em harmonia com aquele glorioso patrimônio do qual já cedo se esquecera. Mas, volvendo-se aos padrões do mundo, perdera de vista a cristalina verdade da inspiração para iluminá-la naqueles caóticos séculos das trevas do romanismo. A igreja não levou em consideração o apelo de Cristo e sua condição prosseguiu até que foi rejeitada como a igreja de Deus.

A vinda de Jesus como um inesperado ladrão sobre Sardo, não indica uma vinda condicional, mas a sua própria vinda real ao mundo, ocasião em que ela seria surpreendida se não vigiasse e volvesse a mensagem que desprezara. E o estado atual da igreja de Sardo é evidencia de que ela não atendeu o apelo e, por conseqüência, terá que arcar na vinda breve do Senhor com a recompensa que naquele dia será o quinhão dos desprezadores da sã verdade evangélica.



POUCOS FIÉIS NA IGREJA DE SARDO




De modo geral a igreja foi acusada de imperfeição. Mas isto não implicava que houvesse ao menos alguns fiéis em seu meio. Por entre as trevas notava o Senhor algumas luzes brilhantes, embora poucas. Alguns crentes de Sardo não se haviam contaminado. Conservavam a pureza da fé e o zelo da vida cristã. E o Senhor lhes garantiu a felicidade futura, que é a de todos os remidos fiéis, de com Ele andarem de branco no futuro reino, prêmio e emblema recordativo da pureza cristã mantida em suas vidas terrenas, em meio à escuridão e a apostasia da igreja.

Os poucos fiéis de Sardo, não esquecidos por Jesus, demonstram que Ele em verdade não olvida seus dedicados filhos em qualquer lugar ou situação. Quão aprazíveis são eles a Seus olhos bem o vemos por este extrato da carta de Sardo.



A TRIPLICE PROMESSA AOS VENCEDORES DE SARDO




A primeira promessa é o fino vestido branco de que já falamos. A segunda é a conservação de seus nomes no livro da vida, tema tratado no capítulo vinte. Esta promessa implica que o vencedor viverá eternamente com seu mestre. A terceira promessa é a confissão do nome do vencedor diante de Seu Pai e de Seus anjos. Esta confissão alude ao juízo tratado também no capítulo vinte. Aquele que triunfar sobre o reino da maldade, terá seu nome confessado, ou defendida sua integridade por seu Salvador, precisamente ao ser o caso de sua vida anterior à sua conversão apresentado no grande tribunal. Mas todo o que não se esforçar para vencer, seu nome será negado por Cristo no augusto tribunal (Mat.10 : 32-33).



“QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ `AS IGREJAS”



Com quanta solenidade dirige o espírito o Seu apelo à igreja em falta e aos poucos fiéis de seu meio. Para todo crente em Jesus há segurança em acatar a voz do Seu representante, o Espírito Santo. Quem se mantiver  indiferente à Sua voz, O ofenderá e cometerá pecado imperdoável de que falara Jesus pessoalmente.





A IGREJA DE FILADÉLFIA



VERSOS 7-13

“Ao anjo da Igreja em Filadélfia, escreve: Assim diz o santo, o Verdadeiro, Aquele que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha e ninguém abre.

Conheço as tuas obras. Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar, Sei que  tens pouca força, mas guardaste minha palavra e não renegaste meu nome.

Eis que farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem ser judeus mas não são, pois mentem: farei com que venham prostrar-se a teus pés e reconheçam que eu te amo.

Visto que guardaste a minha palavra de perseverança, também Eu te guardarei da hora da provação que virá sobre o mundo inteiro, para colocar à prova os habitantes da terra.

Venho sem demora! Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Quanto ao vencedor, farei dele uma coluna no templo do meu Deus, e daí nunca mais sairá. Escreverei sobre ele o nome do Meu Deus, e o nome da cidade do Meu Deus - a nova Jerusalém, que desce do céu vindo da parte de  Deus - e o Meu novo nome.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.





A CIDADE DE FILADELFIA



Filadélfia era uma antiga cidade da Líbia, Ásia menor, situada a 27 milhas do sudoeste de Sardo e a 200 metros do nível do Mediterrâneo, sobre uma parte do monte Tmulos. Dominava a bela e vasta planície fértil e bem regada do Hermus. Foi fundada pôr Átalo Filadelfo, rei de Pérgamo (159-138 AC). A intenção de seu fundador foi a propagação da cultura grega na Líbia e na Frígia. Nos seus áureos dias foi uma importante cidade bem edificada e comercialmente próspera, denominada às vezes de – Pequena Atenas. O paganismo tinha em Filadélfia o seu culto do sol com seus altares e seus templos. Porém, pelos fins do I século, quando se escreveu o Apocalipse, o seu estado religioso cristão era florescente.  

A cidade era objeto de freqüentes terremotos. No ano 17 da era cristã um terremoto que a destruiu causou tal pânico a seus habitantes que muitos deles viveram muitos anos fora de seus muros. Tibério mandou-a reedificar. No século XIV Tamerlão destruiu Filadélfia que ainda sobreviveu. Foi a última cidade da Ásia Menor a cair nas mãos dos turcos (1390). Hoje (Séc.XX) a cidade chama-se Allah Shehr, nome turco que significa – Cidade de Deus – tendo cerca de 3000 casas e 10.000 habitantes.



A   I G R E J A    D E    F I L A D E L F I A






A carta à igreja de Filadélfia compreende o sexto período da igreja cristã, de 1821 a 1844. Este foi de todos o menor período da igreja e o único em que ela não sofreu uma só censura de seu Senhor. Sua carta só contém elogios e é a única das sete na qual o Senhor Jesus a ela se dirige da maneira mais solene e mais sublime. Os cristãos do período da igreja de Filadélfia eram, antes, membros das igrejas protestantes, aqueles sinceros “que não contaminaram seus vestidos” com a apostasia da fria e indiferente Sardo e que a abandonaram para integrarem a nova igreja que surgia no tempo pré-estabelecido pela profecia.

O significado da palavra Filadelfia” é – Amor Fraternal – o que expressa estreita amizade entre irmãos, principalmente entre os que comungam da genuína fé religiosa. O glorioso emblema harmoniza-se perfeitamente com os componentes desta igreja, cujo viver fremia de abundante amor mútuo e transbordante por Cristo.

O período de Filadélfia iniciou-se precisamente duas décadas depois de chegar o “tempo do fim” com a queda do poder temporal do papado, quando as profecias que este tempo indicavam deviam ser estudadas e proclamadas em altas vozes ao mundo, num grande movimento religioso. Ferventes de amor pelos perdidos pecadores, os cristãos desta igreja ergueram unânimes a voz num alto brado de alarma e num veemente convite às igrejas caídas que formavam a Sardo protestante adormecida e conformada consigo mesma, e ao mundo em geral. A nota tônica da memorável mensagem era a próxima segunda vinda de Cristo e a necessidade de um preparo cabal para receber o Senhor da Glória. O espírito de Deus acompanhava o grande movimento de Filadélfia, dando-lhe poder e força. Os que formavam as suas fileiras, esquadrinhavam profundamente seus corações, consagravam-se diariamente a Deus e transbordavam de paz, gozo e amor em Jesus. Constantemente aumentava o número dos que, convictos da iminência da vinda do Senhor Jesus, juntavam-se ao movimento que cresceu mais e mais até que se tornou o maior que se verificou na história do cristianismo desde de os dias apostólicos. Nos capítulos dez e quatorze encontra-se uma muito ampla exposição da vasta obra da igreja de Filadélfia.



O   A N J O    D A    I G R E J A     D E    F I L A D E L F I A



Este anjo deve ser apreciado pelo da igreja de Éfeso. Tão só é necessário dizer-se que, pelo teor da carta de Jesus, o ministério da igreja de Filadélfia era, em bom sentido, diferente dos demais períodos antecedentes. Pois quando um corpo de ministros recebe uma carta de Cristo relativa à conduta de Sua igreja e ela não contém nenhuma censura, é porque seus ministros, senhores de sua missão, souberam zelar pelo bem espiritual da igreja de Seu Salvador.



COMO CRISTO SE INTRODUZ À IGREJA DE FILADELFIA



 O filho de Deus identifica-se a esta igreja santa apresentando-se como Santo. No céu o Seu nome é aclamado incessantemente como “Santo” (Isa.6:1-3). Ao Seu povo é Ele apresentado como o Santo de Israel (II Reis 19:35). O Seu nome é “Santo” (Lev. 22:32). E de Seu povo Ele espera que seja “santo” como Ele o é (I Pedro 1:16). Também como “Verdadeiro” é Sua apresentação a Filadélfia, por isto confia nEle a Sua igreja. Sua igreja só poderá ser santa e verdadeira se estiver nEle e Ele nela. E nenhum indivíduo em particular conseguirá ser santo e verdadeiro sem que esteja em Cristo e Cristo nele.



A CHAVE DE DAVI


Ao anunciar o anjo Gabriel a Maria o nascimento de Jesus, disse-lhe: “O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, Seu pai” (Luc.1:32). Davi era pai de Jesus segundo a linhagem carnal, como vemos na Sua genealogia (Mat.1:17). Era Jesus reconhecido entre as pessoas como “Filho de Davi” (Mat. 9:27, 15:22). Deste modo, o reinado de Cristo será uma continuação do reinado de Davi, tanto mais que o reino de Davi, que era ao mesmo tempo o reino de Israel, era, na terra, o reino do Senhor mesmo ou um emblema do futuro reino de Cristo (I Cronicas 28:5, 29:23). Na figura do rei Davi, é Jesus ainda referido nas profecias como Aquele que há de reinar no glorioso reino futuro (Jer.30:9, Ezq. 34:26, 37:24, Oséias 3:4-5). É esta a razão porque o Salvador declara ter a “chave de Davi”. Chave é emblema de autoridade. Assim aquela autoridade que Jesus conferira a Davi, ao escolhê-lo para reinar em Seu nome sobre Israel, Seu povo, reverterá a Ele como o verdadeiro Rei de quem Davi era um símbolo.

Na figura da chave de Davi , é conferido a Jesus, e a Ele somente, o direito de abrir e fechar. Este abrir e fechar aponta a uma porta, a mais gloriosa porta dada a conhecer ao homem. É a porta da salvação gratuitamente oferecida ao gênero humano. Quem abriu esta porta foi Cristo mesmo, em nome de Seu Pai, e a ninguém na terra assiste o direito de fechá-la enquanto estiver aberta. Os farizeus no tempo de Jesus foram acusados de hipocrisia por pretenderem fechá-la aos homens. (Mat.23:13). O único que pode fechar a gloriosa porta, e um dia o fará, é Cristo. E então ninguém poderá abri-la. A salvação estará encerrada para a família humana.



“EU SEI AS TUAS OBRAS”



Quão grato prazer teve Cristo em assim dirigir-se à igreja de Filadélfia. As demais das sete igrejas não teve este mesmo prazer. Efeso O amargurou deixando o primeiro amor; Esmirna, posto que fiel nas perseguições, estava cheia de polêmicas desastrosas; Pérgamo estava no trono de Satanás e permeada de idolatria; Tiatira permitia a obra da ímpia Jezabel romana; Sardo, por sua vez, estava morta; Laodicéia, como veremos, está morna e jactanciosa. Só Filadélfia alegrou a Seu Salvador com cem por cento de lealdade, pelo que foi isto grato conforto a Jesus. Maravilhosa igreja “sem ruga ou coisa semelhante”.



UMA PORTA ABERTA DIANTE DA IGREJA



No capítulo quatro lemos: “havia uma porta aberta no céu”. Olhando o profeta através desta porta viu um compartimento cujo cenário não deixa dúvidas quanto a se tratar do lugar santíssimo do santuário celestial. É de suma importância o fato de S. João referir que a visão do quarto capítulo lhe foi dada “depois destas coisas”, isto é, após descrever as cartas das igrejas de Filadélfia e Laodicéia, relacionadas em evidencia com a “porta aberta”, para o santíssimo do santuário do céu. Até o ano de 1844, Jesus oficiou no lugar santo do santuário. Nesta data, encerrou-se a fase sacerdotal de Jesus no lugar santo. Porém, encontravam acesso a Deus, outra porta se abria, e oferecia o perdão dos pecados aos homens, mediante a intercessão de Cristo no lugar Santíssimo. Encerrara-se uma parte de Seu ministério, apenas para dar lugar a outra” (O Conflito dos Séculos, Ellen G. White, pag. 429). Em 1844, “Cristo abriu a porta, ou o ministério, do lugar santíssimo” (O Conflito dos Séculos, Ellen G. White, pag. 429).

Mas a igreja de Filadélfia esperava a vinda de Cristo em 1844, no final do período de 2300 anos da profecia de Daniel, capítulo oito versículo quatorze. Por esta razão não via a obra mediadora de Cristo no lugar santíssimo além do ano de 1844. Foi esta falta que determinou a sua amarga decepção naquele ano, demonstrada cabalmente na profecia do capítulo dez. A igreja que a seguiu, Laodicécia, deparou a porta aberta para o santíssimo, e compreendeu o ministério sacerdotal de Jesus ali desde 1844 até que Sua porta será fechada, e o Senhor Jesus venha buscar os Seus amados seguidores. Enquanto esta porta não for fechada no término do ciclo da intercessão de Jesus no santíssimo, “ninguém a pode fechar”. E quem não entrar por esta porta da misericórdia agora, para encontrar o Seu salvador, nunca O há de encontrar, e estará perdido para a eternidade.



“Tendo pouca força, guardaste a minha palavra”



Esta pouca força não implica em pouca fé e poder do alto, mas em recursos materiais e influências do mundo. O versículo seguinte atesta que a igreja tinha inimigos da sinagoga de Satanás. Estes, vindos da igreja de sardo, apóstata, cujo número era avultado, fizeram-lhe cerrada guerra. Todavia a igreja fora elogiada por guardar a palavra viva do Senhor, em meio às oposições, pouca influência e bens no mundo. Fiel à Sua palavra e enfrentando os obstáculos, secundada pelo poder do alto, a igreja de Filadélfia ia cumprir o propósito de Deus exarado nas profecias.



FALSOS JUDEUS DA SINAGOGA DE SATANÁS



Não trata a profecia aqui de judeus segundo a carne ou a nacionalidade, mas de judeus espirituais, como vimos na igreja de Esmirna. Eram eles falsos cristãos que, enquanto pretendiam ser cristãos, pertenciam à sinagoga de Satanás. Estes mentirosos apóstatas da igreja de Sardo, opunham-se à igreja de Filadélfia; viam com maus olhos a sua grande obra predita nas profecias. Mas, pelo trabalho glorioso que ela realizou, não podiam negar, embora com ela não quisessem se unir, que Deus a amava e a estava fortalecendo e inspirando na sua gloriosa missão.



“Como guardaste a palavra da minha paciência”



As palavras da paciência de Jesus são as Escrituras Sagradas, Sua inspiração. (Rom.15:4) Todo que a observar com fidelidade manifestará na vida a paciência que elas inspiram. Uma das recompensas que gozaria a igreja de Filadélfia por guardar a palavra da paciência do Senhor, era que seria guardada da terrível tentação que sobrevirá, em breve no mundo. Esta tentação alude ao tremendo tempo em que as sete pragas forem derramadas na terra, também chamado tempo de angústia. Naquele tempo, os fiéis crentes da igreja de Filadélfia estarão guardados no túmulo, esperando o chamado de seu vitorioso Salvador.



“EIS QUE VENHO SEM DEMORA“



Em nenhuma outra parte das profecias do Apocalipse é feita referencia à Segunda Vinda de Cristo com tanta evidência. `A igreja de Tiatira foi dito: “Mas, o que tendes retende-o até que Eu venha”. A Sardo foi admoestado: “E, se não vigiares , virei sobre ti como um ladrão”, demonstrando maior aproximação do grande acontecimento. Mas, à igreja de Filadélfia, já não tratou Jesus da Sua Segunda Vinda como uma esperança, senão como uma realidade próxima. E, agora, se quisesse Jesus anunciar-nos a Sua Segunda Vinda, dir-nos-ia simplesmente: “Eis , que estou às portas”. Importa que nos preparemos com urgência para O saudarmos com alegria e esperança.





“Guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa”



Como há uma coroa reservada a cada cristão fiel da igreja de Filadélfia, há também uma para todo o verdadeiro cristão de todos os tempos. S. Paulo que esperava a sua, a descreve como “coroa de justiça” incorruptível (I Cor.9:25 e II Tim.4:8); S. Pedro, que também esperava receber a "imarcescível coroa da glória" (I S. Pedro 5:4); e S.Tiago diz que será "a coroa da vida" (S.Tiago 1:12). Nada e ninguém no mundo deve influenciar na vida do cristão a ponto de ele perder a sua gloriosa coroa prometida. Mas, para que os cristãos de Filadélfia não perdessem a gloriosa coroa, foram admoestados a guardarem bem o que tinham conseguido, a sua coroa. Eles tinham uma preciosa verdade para viverem e a comunicarem ao mundo.



Uma gloriosa promessa ao vencedor



Aqui temos a mais linda promessa do Salvador à Sua igreja. Seriam feitos, os vencedores, colunas vivas no templo de Deus, com três gloriosas inscrições: O nome de Deus, o nome da Nova Jerusalém e o novo nome de Jesus. O templo de Deus nesta referencia não representa o santuário celestial, mas a própria igreja viva, redimida. Isto é confirmado por S. Paulo, que disse: “Por que vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: ‘Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o Seu Deus e eles serão o Meu povo’” (II Cor.6:16). A promessa de ser uma futura coluna no templo da igreja, significa que o vencedor receberá um lugar de honra permanente na igreja e ao mesmo tempo de segurança para ela como um edifício celestial vivo. Ele jamais, como sublime coluna, será removido, ou seja, jamais haverá possibilidade de cair ou perder-se na eternidade. Como é dito no próprio livro do Apocalipse (Apc.14:1), o nome de Deus e o novo nome de Jesus serão escritos nas testas dos vencedores, como colunas vivas de honra. Disto é evidente que pertencerão pelos séculos eternos a Deus, que os amou e planejou a sua redenção, e a Jesus que os redimiu por Seu precioso sangue e por cuja remissão hão de receber vida eterna.  O nome da cidade de Deus, a Nova Jerusalém, neles também estará, como um indicativo do destino que terão ao serem trasladados da terra e porque durante mil anos serão cidadãos da Santa Cidade. A inspiração diz-nos ainda das três simbólicas inscrições, o seguinte:

O novo nome de Jesus será possivelmente o que o profeta Jeremias menciona: “Este é o nome com que o chamarão: Iahweh, Nossa Justiça (Jer.23:6). Mas, para recebermos as três gloriosas inscrições, devemos vencer, vencer todas as más influências e todo o pecado que porventura exista em nós ou queira penetrar em nossas vidas, e ser já aqui colunas da igreja de Deus e de Cristo. (Gal. 2:9)           



Quem tem ouvidos, ouça o que o espírito diz às igrejas.



A uma igreja sem mácula, abundante em amor fraternal e zelosa em sua vasta obra missionária, teve por certo o Espírito Santo contentamento em exortar. O divino representante de Jesus não se alegra quando Sua voz não é acatada com prazer. Ele fala e exorta de inúmeras maneiras enquanto vê um raio de esperança no pecador. Mas, quando este deliberada e definitivamente se recusa ouvir Seus apelos, então o Espírito Santo, o abandona, não porque não simpatize mais com o pecador, mas porque este decidiu o seu próprio destino, ao contrário do desejo de Deus. A segurança e a vida eterna estão em prezar e acatar a voz do Santo Espírito de Deus.





A   IGREJA   DE   LAODICÉIA



VERSOS 14-22 –

Ao anjo da Igreja em Laodicéia, escreve: Assim fala o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus. Conheço tua conduta: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Assim, porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de minha boca. Pois dizes: sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso. Não sabes, porém, que és tu o infeliz: miserável, pobre, cego e nu!

Aconselho-te a comprar de Mim ouro purificado no fogo para que enriqueças, vestes brancas para que te cubras e não apareça a vergonha da tua nudez, e um colírio para que unjas teus olhos e possas enxergar.

Quanto a Mim, repreendo e educo todos aqueles que amo.

Recobra, pois, o fervor e converte-te! Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele Comigo.

Ao vencedor concederei sentar-se Comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas”.



A CIDADE DE LAODICÉIA



Laodicéia era uma antiga e principal cidade da Frigia Pacatiana, Ásia Menor, situada no vale do Meander, na confluência dos rios Lico e Hatis, na encruzilhada de duas estradas principais que atravessavam a Ásia. Por isso, era a cidade da riqueza com grandes mercados, grandes casas de câmbio e grandes interesses manufatureiros. A cidade era tradicionalmente denominada “cidade de banqueiros e finanças”. Por causa de suas riquezas, seus cidadãos eram orgulhosos, arrogantes, e satisfeitos consigo mesmos. Perto da cidade havia um bom número de fontes de água mineral fria, quente e morna. Acreditavam que as águas tinham propriedades curativas. E, conquanto fossem agradáveis para banho, as águas mornas eram de sabor desagradável e produziam náuseas. Os banhos mornos e fontes minerais, atraiam muitos visitantes da Europa e da Ásia.

Laodicéia chamava-se originalmente Dióspolis, cidade de Zeus, depois Roas. Antíoco II Teus, rei da Síria (260-247 AC), ampliou e engrandeceu a cidade, mudando seu nome para Laodicéia, em homenagem a sua esposa Laodice.

Laodicéia era um importante centro industrial e comercial, sendo seus principais produtos os tecidos e tapetes finos, macios e pretos, que fabricava de lã natural de uma espécie de ovelhas pretas. Os mais afamados de todos eram os vestidos sem costura, pretos, vestidos quase exclusivamente pelos laodicenses como uma evidencia de sua riqueza. Em Laodicéia havia também uma escola de medicina, cujos médicos preparavam o célebre “Pó Frígio” para a cura da oftalmia ou afecção inflamatória dos olhos e seus anexos. A cidade de Laodicéia sofreu graves reveses na sua história. Um terremoto a destruiu no ano 65 AD, sendo reedificada por seus habitantes sem o auxilio do governo romano. Em 1255 os turcos apoderaram-se dela, e em 1402 Tamerlão a arrasou totalmente. A antiga cidade é hoje um montão de ruínas históricas de sua passada grandeza. O local de suas tranqüilas ruínas é agora chamado pelos turcos “Eski Hissar” – o Velho Castelo.



A IGREJA DE LAODICÉIA



Na cidade de Laodicéia existiu nos dias da mensagem do Apocalipse, uma igreja cristã fundada provavelmente por S. Paulo. Na carta deste apóstolo aos colossenses, a igreja de Laodicéia é mencionada quatro vezes, pelas quais notamos que os cristãos laodicenses constituíam uma fervorosa, próspera e florescente igreja. Mas, a carta apocalíptica dirigida à igreja de Laodicéia, não tem que ver com aquela igreja, antes assinala o sétimo e último período da igreja cristã que, tendo o seu inicio em 1844, irá até ao fim, ou seja, até à segunda vinda de Cristo em poder e glória.

O termo Laodicéia vem de dois vocábulos gregos combinados que significam: Laos – povo e Dike – juízo. Daí o correto significado da palavra Laodicéia ser – povo do juízo ou do julgamento. Quer dizer que a igreja de Laodicéia corresponde exatamente à época do juízo que se iniciou, segundo as profecias do Apocalipse e de Daniel, em 1844, e continuara até ao fim da graça redentora. Como ultima igreja de Cristo na terra, Laodicéia tem, como aponta as profecias definidas que lhe dizem respeito, uma derradeira mensagem de esperança para o mundo em agonia. Esta sublime verdade, a encontramos com seus devidos detalhes nas explanações dos capítulos dez e quatorze.




“E AO ANJO DA IGREJA QUE ESTÁ EM LAODICÉIA ESCREVE



Sobre este anjo veja-se o da igreja de Éfeso. No caso de Laodicéia, as acusações dirigidas ao anjo são verdadeiramente dramáticas. Na sua pessoa a igreja é veementemente acusada de carência de fé, de justiça divina e de graça. Para termos uma idéia de como Cristo vê o estado de Laodicécia, basta dizer-se que a Sua carta não contém um só elogio sequer. Pois sua situação não permite o reconhecimento de suas obras missionárias em face de sua indiferença espiritual. Mas, toda a carga acusatória do Senhor Jesus, recai de alto a baixo, inquestionavelmente, sobre seu anjo simbólico, cuja acusação não visa sua obra missionária mundial, mas sim a vida espiritual interna da igreja, por ele, negligenciada.

Apesar da condição da igreja de Laodicéia, Jesus diz-lhe em Sua carta que a ama, e que está à porta dos corações dos laodicenses, fazendo pelos faltosos de Laodicéia, o trabalho pessoal que seu anjo negligenciou. É esta uma forte razão para crermos que a mensagem contida na carta de Laodicéia, fará a sua obra no devido tempo, levando os sinceros ao arrependimento e ao preparo necessário para encontrar-se com seu Salvador. É claro que grande parte dos laodicenses em falta, não dará importância à carta de Cristo, e terão de deixar a igreja queiram ou não.



COMO CRISTO SE APRESENTA À IGREJA DE LAODICÉIA



Em primeiro lugar Ele é o “Amém” para a Sua igreja (II Cor. 1:20). (veja-se a dissertação sobre o “Amém nos versículos quatro a oito do primeiro capítulo, onde temos uma apreciação especial de Jesus como o “Amém” de Sua igreja).

Em segundo lugar é Jesus a “Testemunha Fiel e Verdadeira” (Apo.1:5). A mensagem dirigida a Laodicéia, tão penetrante e positiva, não admite qualquer dúvida, porquanto é a Testemunha Fiel e Verdadeira Quem fala, e Seu testemunho não pode deixar de ser exato.

Em terceiro lugar Jesus é o princípio da criação de Deus”. O vocábulo “principio” não adimite, com relação a Jesus, que Ele haja sido criado por Deus. Jesus não foi criado, mas gerado pelo Pai como atestam vários textos escriturísticos (Sal. 2:7, Atos 13:33, Heb.1:8, 5:5,). (...) Sua vida e Seu manifesto poder sobrenaturais são testemunhos inequívocos da Sua divindade. Se Cristo fosse criado Deus não o chamaria de Deus (sal. 45:7, Heb. 1:8) Se Jesus apenas tivesse sido criado, S. João não teria escrito dEle o que encontramos no seu evangelho (João 1:1-3). Jesus jamais seria o “Amém” e a “Testemunha Fiel e Verdadeira” da igreja de Laodiceia, se houvesse sido simplesmente criado. O vocábulo grego “ARCHE”, traduzido por “princípio” neste texto, é traduzido diferentemente em vários outros textos, como indicativo de que tem outras aplicações. Alguns textos traduzem por “principado” (Col. 2:10),magistrado” (Luc. 12:11),poder” (Luc. 20:20),império” (I Cor. 15:24), etc. Assim sendo, nosso texto apresenta Cristo não como o “princípio da criação de Deus”, no sentido de um ser criado, mas como - o Magistrado, ou o poder, ou o império da criação de Deus, ou, mais propriamente, como “o Agente”ou “a causa da criação de Deus”. Isto confirma inúmeros textos bíblicos que O apresenta como Criador, como por exemplo o de S. Paulo: “Porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele” (Col. 1:16).



CONHEÇO TUA CONDUTA: NÃO ÉS FRIO NEM QUENTE.



Tristemente faz a “Testemunha Fiel e Verdadeira” ressoar Sua voz na mais grave denúncia como jamais fizera contra a Sua igreja em toda a sua história. Uma condição de indolência, de torpor, de letargia espiritual, é o que lhe é lançado em rosto numa acusação sem precedentes, em nenhum dos outros períodos anteriores da vida da igreja desde o apostólico.

A mensagem de Laodicéia se aplica ao povo de Deus que professa crer na verdade presente. A maior parte está constituída por mornos professos, que têm um nome porém nenhum zelo. Encontram-se ajudando o inimigo para debilitar e desalentar aqueles a quem Deus está empregando para fortalecer a obra. O termo morno aplica-se a esta classe de pessoas. Professam amar a verdade, mas são deficientes na devoção e fervor cristãos. Não se atrevem a abandonar de todo a verdade e correr o risco dos incrédulos; porém não estão dispostos a deixar morrer o EU e seguir de perto os princípios da fé. Não são nem frios nem quentes; ocupam uma posição neutra, e ao mesmo tempo se lisonjeiam de que não lhes falta nada. A Testemunha Fiel aborrece esta mornidão. Abomina a indiferença desta classe de pessoas – como a água morna, Lhe causam náuseas. Não são nem preocupadas nem egoisticamente obstinados. Não se empenham plena e cordialmente na obra de Deus, identificando-se com Seus interesses; antes se mantêm afastados, e estão prontos a abandonar seu posto quando o exigem seus interesses pessoais mundanos. Falta em seu coração a obra interna da graça (Testemunhos Seletos, Ellen G. White, Vol. III, pag. 253-254), Disse uma fervorosa cristã:

“Muitos, eu vi, que estavam a se lisonjear como bons cristãos, porém não possuíam um simples raio de luz que promana de Cristo. Não sabiam o quer dizer ser renovados pela graça de Deus... Meus amigos, não vos enganeis quanto à vossa condição. Não podeis enganar a Deus. Diz a Testemunha Verdadeira: ‘Eu sei as tuas obras’” (Testimonies for the Church, Ellen G. White, Vol I, pag. 190).

Eis em cores vivas a condição da igreja de Cristo deste período, século das luzes e de juízo. Lamentavelmente é esta a realidade tremenda de uma igreja conformada com o mundo e inteiramente satisfeita consigo mesma como a outrora comercial e material cidade que a prefigura. Indiferente para com o sagrado e contente consigo mesma, tornou-se repulsiva ao seu Senhor como algo morno e nauseabundo. Como é repelente ao céu um cristianismo sem vida e sem o calor espirituais emanantes de Cristo. Como é abjeto a Cristo um cristianismo de palavras e falto de sentimentos verdadeiramente cristãos! Quando os incrédulos deparam um cristianismo tal na vida daqueles que se jatam de serem o povo de Deus e terem a pretensão de salva-los, eles então, infortunadamente, avaliam em pouco ou em nada o poder do evangelho de Cristo, e O repelem. Que desastroso sermão pregam os laodicenses, com seu modo de viver como cristãos! Oh, Senhor Jesus! Intervém Senhor! Salva Laodicéia de seu desolador estado! Salva o Teu povo, a Tua herança! Opera, Senhor! Opera sem tardança! Levanta o Teu povo, o Teu último povo, de sua letárgica indiferença, antes que tarde seja!



”OXALA FORAS FRIO OU QUENTE”



A frialdade e o calor espirituais são preferíveis, diante de Deus, à mornidão. O estado de frieza não é muito pior em face da mornidão, porque a experiência tem demonstrado que há mais esperança da parte de quem ignora o evangelho do que da parte de quem depois de conhece-lo e vive-lo, se tenha tornado no triste estado de tíbio. É deveras muito mais fácil converter um inveterado pecador do que despertar uma alma morna do torpor espiritual em que vive. Quando o pecador, gelado no pecado a ponto de sucumbir nele, ouve os apelos do evangelho, sente o desejo de aproximar-se de seu Salvador. Não se dá isto com o decididamente morno, que é meio religioso e meio mundano; que vive um cristianismo mecânico, falto da vida de Cristo, da Sua fé e da Sua veste de justiça, como é evidentemente referido em Sua carta a Laodicéia. Todos os apelos para a aquisição duma melhor vida espiritual, mais fervorosa, mais cheia do verdadeiro vigor cristão, são olhados com desdém pelo nosso cristianismo irmão tíbio de Laodicéia, contentíssimo com a forma vazia da vida cristã. Sim, Deus e Seu Filho vêem mais possibilidade de um pecador inteiramente frio converter-se e salvar-se, do que um cristão nominal, morno, aceitar os divinos apelos para ascender às culminâncias da pura fé do evangelho de Cristo.



“VOMITAR-TE-EI DA MINHA BOCA”



Os termos gregos – CHLIAROS, morno e EMEO, vomitar – só aparecem uma vez no Novo Testamento e ambos são aplicados à igreja de Laodicéia. Semelhante à água morna da cidade de Laodicéia que causava náuseas, vômitos, assim é a igreja de Laodicéia perante Jesus a quem ela pretende servir. Repugnando a sua condição o Senhor ameaça vomitá-la de Sua boca.

Muitos do professo povo de Deus, estão tão conformados com o mundo, que seu caráter peculiar não é discernido, e torna-se difícil fazer distinção entre o que serve a Deus e o que não O serve. Deus faria grandes coisas por Seu povo se eles se separassem do mundo. Caso se submetessem à Sua direção, Ele torná-los-ia um louvor em toda Terra. Diz a testemunha verdadeira: “conheço as tuas obras”. Testimonies for the church, Ellen G. White, Vol. II pg. 125

A figura de vomitar de Sua boca – adverte a inspiração – significa que Ele não pode oferecer vossas expressões de amor a Deus. Ele não pode endossar a pregação de Sua palavra ou vossa obra espiritual em nenhum modo. Ele não pode apresentar vossas práticas religiosas com a súplica de que a graça vos seja dispensada. (Testimonies for the Church, Ellen G. White, Vol VI, pag. 408).



MISÉRIA SOB O MANTO DE FALSA RIQUEZA



O versículo dezessete revela a causa real do doloroso estado de Laodicécia, que é a sua pretensão de ser o que em realidade não é. Contemplando-se a si mesma através de um falso prisma, esta igreja julga que a riqueza, tal que nada lhe falta, é o seu próprio mecanismo dentro do qual ela existe. Orgulha-se de ser a guarda do puro evangelho de Cristo; de ser a legitima depositária da verdadeira luz para o século atual; de ser a igreja do Senhor Jesus desta ultima geração do mundo; de ser inigualável como organização; de sua grandiosa obra missionária mundial; de suas numerosas instituições; de seus processos financeiros; de seu magnífico corpo de ministros. Oh! Que tremendo desastre! Não pode haver maior descalabro, uma igreja tomar sua própria estrutura mecânica mundial como riqueza espiritual, e julgar que nada mais necessita enquanto, infelizmente desconhece a sua verdadeira e indiscutível situação. Julgando gozar de elevado conceito e ter alcançado o apogeu espiritual, a “Testemunha Fiel” lança-lhe em rosto cinco evidentes fatos que testificam veementemente contra a sua vaidade em exaltar pretensões que jamais poderão salva-la.

O termo – infeliz – do grego “talaipõros”, revela desgraça espiritual (Rom. 7:24). Também os vocábulos – miserável, pobre, cego e nu – do grego, expressam condição espiritual. Eis a grave denuncia da Testemunha Fiel à igreja que se julga rica e não ter falta de nenhum bem da divina graça. E o que é ainda mais grave, é que a igreja, diz-lhe o Senhor Jesus, não sabe o que ela é – “INFELIZ, MISERÁVEL, POBRE, CEGO e NU”. Quando alguém se ignora a si mesmo, é porque não faz caso de si próprio. E toda esta culpa recai, antes de tudo, sobre o seu anjo.

Na mensagem aos Laodicenses, os filhos de Deus são apresentados em uma posição de segurança carnal. Estão tranqüilos, crendo-se em uma exaltada condição de progresso espiritual. Que maior engano pode penetrar nas mentes humanas que a confiança de que neles tudo está bem quando tudo está mal! A mensagem da Testemunha Fiel encontra o povo de Deus sumido num triste engano, ainda que sincero nesta crença. Não sabe que sua condição é deplorável à vista de Deus. Ainda que aqueles aos quais se dirige se estão lisonjeando de que se encontram em uma exaltada condição espiritual, a mensagem da Testemunha Fiel quebranta sua segurança com a surpreendente denúncia de sua verdadeira condição de cegueira, pobreza e miséria espirituais. O testemunho, tão penetrante e severo, não pode ser um erro, porque é a Testemunha Fiel que fala, e Seu testemunho é correto.

“Aos que se sentem seguros em seus progressos, aos que se crêem ricos em conhecimento espiritual, é-lhes difícil receber a mensagem que declara estarem enganados e necessitados de toda graça espiritual. O coração que não foi santificado é enganoso ‘mais que todas as coisas e perverso’. Muitos se estão lisonjeando de que são bons cristãos, mas não têm um só raio da luz de Jesus. Necessitam humilhar-se profunda e cabalmente diante de Deus antes de sentir sua verdadeira necessidade de esforços ferventes e perseverantes para obter os preciosos dons do Espírito.

“Muitos se aferram a suas dúvidas e pecados prediletos, mas estão tão enganados que falam e sentem como se não necessitassem de nada. Acham-se na maior necessidade da graça de Deus e de discernimento espiritual para poderem descobrir sua deficiência no conhecimento espiritual. Falta-lhes quase toda qualificação necessária para aperfeiçoar um caráter cristão.

“Não têm um conhecimento prático da verdade bíblica, o qual conduz à humildade na vida e a uma submissão à vontade de Cristo. Não vivem obedecendo aos requisitos de Deus. A maior razão por que os filhos de Deus se encontram agora neste estado de cegueira espiritual, é que não querem receber a correção.

“Muitos têm desprezado as reprovações e admoestações que lhes são dadas. a testemunha Fiel condena o estado tíbio dos filhos de Deus, que dá a Satanás grande poder sobre eles neste tempo de espera e vigilância. Estas pobres almas lisonjeiam-se de que se encontram bem, de que gozam do favor de Deus e são ricas em discernimento espiritual, quando são pobres, cegas e miseráveis espirituais. A Testemunha Fiel condena o estado tíbio dos filhos de Deus.” (Testemunhos Seletos, Ellen G. White, Vol III Pg. 143-145) 



AS TRES NECESSIDADES DA IGREJA DE LAODICÉIA



Depois de diagnosticar a igreja de Laodicéia e declarar-lhe a grave enfermidade, o grande Médico receita os remédios eficazes para a sua pronta restauração. Sua cura, porém, não depende da posse da receita, mas de seguir a sua orientação, usando os medicamentos nela sabiamente indicados. Os remédios receitados por Jesus, que são três, devem ser comprados exclusivamente dEle. Se os laodicenses não adquirirem de Jesus a medicação receitada, e preferirem imitações próprias ou de outrem, falsificando assim a fórmula original, não sararão da enfermidade que então lhes será fatal.

  1 “Ouro provado no fogo” – O ouro natural representa todas as riquezas terrenas. Com ele todos os desejos carnais podem ser satisfeitos. Mas, uma única coisa o precioso metal não poderá fazer jamais, é salvar para a vida eterna. Como porém, o mal da igreja de Cristo não é material e sim espiritual, o ouro que Jesus aconselha comprarem dEle, não pode ser o ouro natural. Deve representar um ouro indizivelmente melhor do que o natural que havia abundantemente na antiga e jactanciosa cidade de Laodicéia. Deve ser indubitavelmente um ouro simbólico de todas as riquezas espirituais, ou seja a coisa mais preciosa, mais vital e mais indispensável para a sobrevivência da igreja de Cristo no mundo. Da posse desse sublime ouro, depende a aquisição de todas as bênçãos da graça de Deus em Jesus Cristo. E que ouro então será esse de que a igreja de Laodicéia esta em falta e deve adquirir de Jesus?

“A fé e o amor são as verdadeiras riquezas, o ouro puro que a Testemunha Fiel aconselha aos tíbios que comprem. Por ricos que sejamos, toda nossa riqueza não nos habilita a comprar os preciosos remédios que curam a enfermidade da alma tíbia. O intelecto e as riquezas são impotentes para suprimir os defeitos da igreja de Laodicéia, ou para remediar sua deplorável condição. Seus membros são cegos e entretanto crêem que nada lhes falta. O Espírito de Deus não ilumina suas mentes, e eles não percebem seu estado pecaminoso; portanto, não sentem a necessidade de ajuda.

“Não possuir as graças do Espírito é, em verdade, triste; porém é uma condição ainda mais terrível o achar-se assim destituído da espiritualidade e de Cristo, e, entretanto, tratar de justificar-nos dizendo àqueles que estão alarmados por nós, que não necessitamos seus temores e compaixão. Terrível é o poder do engano na mente humana! Que cegueira a que põe a luz em lugar das trevas e as trevas no lugar da luz!

“A Testemunha Fiel nos aconselha que compremos dEle ouro refinado no fogo, vestidos brancos e colírio. O ouro recomendado aqui, que foi provado no fogo, é a fé e o amor. Enriquece o coração, porque foi refinado até ficar puro, e quanto mais é tanto mais resplandece (Testemunhos Seletos, Ellen G. White, Vol III Pg. 150, 254).  

(...)

“Satanás está constantemente tentando remover estes preciosos dons dos corações do povo de Deus. Todos estão empenhados em competir a partida da vida. Satanás bem sabe que se ele puder remover o amor e a fé, e suprir as suas lacunas com egoísmo e incredulidade, todos os preciosos traços restantes serão logo habilmente removidos por sua enganosa mão, e o jogo estará perdido” (Testimonies for the church, Ellen G. White, Vol. II pg. 36-37).

A fé é uma das maiores virtudes cristãs; (I Cor. 13:13) é um firme fundamento do que se espera e uma prova do invisível (Heb. 11:1). Sem fé é impossível agradar a Deus (Heb.11:6). Sem fé não há possibilidade de vitória sobre o mundo (I S. João 5:4). A indispensabilidade da fé é evidenciada por esta declaração de Jesus: “Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele” (Heb. 10:38). É pela fé que o crente se apodera de Cristo e das inestimáveis riquezas de Sua graça. Mas, se ela não for secundada pelo escudo do amor, é falsa, é uma jactância perigosa.

Como sem o ouro natural monetário não é possível a vida material, não será também possível sem o ouro espiritual da fé a vida espiritual, e é ela consubstanciada pelas obras de amor correspondentes, sem o que estará morta e o seu possuidor morto espiritual. (Tiago 2:17)

Pelo ouro da fé oferecido por Cristo que é a fé nEle e em Sua palavra, purificada no caminho da aflição (Isa.48:10, Sal.66:10,19 e 20), é que podem triunfar os Laodicenses.

2 “Vestes brancas” – O conselho de Cristo para que Sua igreja dEle compre também vestes brancas, é indicativo de que em geral seus membros estão destituídos das referidas vestes. Os Laodicenses antigos que lhes serviram de símbolo, vestiam-se de preto! Os romanos reconheciam a veste preta como emblema de sujeição. Na Idade Média, grupos em certos países eram compelidos a usar vestes pretas para mostrar sua sujeição.

Não é da vontade de Jesus que Sua igreja persista na falta da preciosíssima vestimenta. “A vestidura branca é a pureza de caráter, a justiça de Cristo repartida ao pecador. É na verdade uma vestidura de tecido celestial, que pode comprar-se unicamente de Cristo, por uma vida de obediência voluntária” (Testemunhos Seletos, Ellen G. White, Vol. III, pág. 225). “Quando nos submetemos a Cristo, nosso coração está unido com o Seu coração, nosso desejo confunde-se com o Seu desejo, nossa mente torna-se uma com a Sua mente, nossos pensamentos são trazidos em obediência a Ele; vivemos então Sua vida. É isto o que significa estar vestido com as vestes de Sua justiça. Então ao olhar o SENHOR para nós, Ele vê, não as vestes de folhas da figueira, não a nudez e deformidade do pecado, mas Suas próprias vestimentas de justiça, que é a perfeita obediência à lei de Jeová” (Christ Object Lesson, Ellen G. White, pág. 310,312)

Quem não está trajado com tão preciosas vestes, o está com os trapos pretos, imundos, da justiça própria, expondo as vergonhas de uma vida cristã infiel, inconseqüente com a vida de seu Salvador que é admoestado a imitar. Jesus quer que seus seguidores andem bem vestidos, vestidos com Sua justiça. “Tirai-lhe as vestes sujas. E a Josué disse: eis que tenho feito que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de limpos e finos trajes” (Zac. 3:4). Estas vestes  são as vestes para as bodas do Cordeiro, comparados ao “linho finíssimo, puro e resplandecente; pois o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (Apoc. 19:8). A menos que o seguidor de Jesus se vista com estas alvas vestes de Sua justiça, comprando-as dEle por uma vida de conseqüente fidelidade aos princípios do são cristianismo, permanecerá vestido com as vestes negras da iníqua justiça humana, o que equivale estar nu diante de Deus.

Se os laodicenses atenderem ao apelo de Cristo e comprarem dEle vestimentas brancas, terão a alegria de dizerem: “Transbordo de alegria em Iahweh, a minha alma se regozija no meu Deus, porque Ele me vestiu com vestes de salvação, cobriu-me com um manto de justiça, como um noivo que se adorna com um diadema, como uma noiva que se enfeita com as suas jóias”(Isa. 61:10).

3 “O colírio para os olhos” – O colírio natural é um medicamento destinado especialmente à cura da oftalmia ou inflamações na conjuntiva, isto é, na membrana mucosa que reveste a face anterior do globo ocular e seus anexos.

O fabrico de colírio na antiga cidade de Laodicéia, evidenciava já a condição visual de seus habitantes. Imaginemos alguém cuja inflamação ocular já o cegou. Os olhos tornaram-se uma fonte de pus, e o próprio aspecto da face da pessoa, repugna. O diagnostico da igreja de Laodicéia acusa-a de oftalmia tão evidente, que a declara cega. E o supremo Médico em sua receita eficaz, não esqueceu a visão espiritual dos laodicenses coberta de repelentes inflamações, pelo que o colírio oferecido pelo divino Médico, deve denotar algo que vivifique o discernimento espiritual e lhe dê visão clara para reconhecer o pecado sob qualquer disfarce.



UM SINAL DO DIVINO AMOR



O versículo dezenove revela a grandeza do amor de Deus por Sua igreja tão grandemente faltosa. O Senhor declara que ama a igreja de Laodicéia, embora a acuse da grande transgressão da indiferença quanto a seu lamentável estado. Que profundidade de amor que repele o pecado e tudo faz para livrar dele o pecador faltoso! ”Eu repreendo e educo todos aqueles que amo”. O educar é revelado como prova de amor. Como um amante e amoroso pai, Deus castiga e corrige a seus filhos. “Pois o Senhor educa a quem ama e castiga todo filho que acolhe” (Heb.12:5-6). Maravilhosa correção e maravilhosos açoites do amor que visa salvar o filho amado de conseqüências funestas e fatais. Seu indizível amor pelos faltosos de Laodicéia, leva Deus a chicoteá-los com tribulações resultantes do afastamento deles próprios, dos sagrados caminhos. Longe de considerarem insuportáveis as tribulações, devem-nas receber como amorosas e justas, pois visam restaurá-los como filhos à família celestial.

Para alguns, somente experiências profundas da necessidade do milagre divino, ou da misericórdia divina, ou na solução de um grande problema, fará a diferença na comunhão com o Pai Celeste; uma doença angustiante, a perda de patrimônio, um livramento de morte, ou outro acontecimento marcante. Mas, se não atenderem a amorosa voz para se arrependerem, eis o resultado: “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, será quebrantado de repente sem que haja cura” (Prov.29:1).

Mas não é fácil aos jactanciosos ricos de Laodicéia se arrependerem. “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mat. 19:24). Fica no entanto com eles a advertência e o apelo, para que se arrependam e se voltem com fervor e amorosa adoração ao amante Salvador. O propósito da mensagem à igreja de Laodicéia não é condená-la mas salvá-la. “Seu objetivo é levantar o povo de Deus, descobrir-lhes suas apostasias, e despertar zeloso arrependimento, para que eles possam ser favorecidos com a presença de Jesus, e preparados para o alto clamor do terceiro anjo” (Testimonies for the Church, Ellen G. White, Vol. I, pág. 186).



EIS QUE ESTOU À PORTA E BATO



Oh profundidade insondável do grande amor divino! O Salvador, qual penitente e suplicante, desce da glória onde em todos tem livre acolhida, para se colocar à porta da igreja de Laodicéia. Vemo-Lo do lado de fora, onde O deixam desdenhosamente, batendo e rogando que seja admitido! De nenhuma outra das seis igrejas anteriores é dito terem cometido tão cruel indiferença para com o Senhor a quem tudo devem! Mas, que grandiosa manifestação de compaixão e clemência por uma igreja que em geral não Lhe corresponde! Mesmo que a tenha declarado morna, desgraçada, miserável, pobre, cega e nua, ela é ainda a Sua igreja amada e devota-lhe toda a imensidade de Seu inigualável amor. Ele não pode abandona-la, pois é contrário a seus afetos por ela deixá-la no abandono a perecer. Ele compreende que agora, no estado precário em que ela se encontra, mais que nunca necessita dEle, como médico assistente. Não pode consentir, jamais, que Sua igreja padeça de tão grandes males, sem Sua assistência. Ansioso procura vê-la e ser por ela recebido com um amor não menor do que o que lhe tem dispensado.

Jesus está batendo à porta de Sua igreja. É a porta dos corações dos crentes de Laodicéia. E que porta é esta em que o Salvador bate, bate, bate, querendo uma espontânea entrada? Oh, sim, é a porta dos corações dos crentes de Laodicéia. Sim, Ele lhes clama:  “Eis que estou à porta e bato”. E que incrível ingratidão! Ele esta do lado de fora, e a carta não faz menção alguma de que a porta Lhe seria, pela totalidade dos laodicenses aberta! Mas o amoroso salvador há de insistir até quando seja possível. E como é que bate o Senhor da Glória? Eis aqui as Suas amorosas batidas:

Toda advertência, reprovação e súplica da palavra de Deus, ou recebida por meio de Seus mensageiros, é uma batida na porta do seu coração. É a voz de Jesus que solicita entrada. A cada toque não atendido, torna-se mais fraca a disposição para abrir. A impressão do Espírito Santo que é hoje rejeitada, não será tão forte amanhã. O coração torna-se menos impressionável, e cai numa perigosa inconsciência da brevidade da vida e da grande eternidade além. 

Abrir-lhe-ão a porta os indiferentes e mornos laodicenses? A resposta a esta pergunta solene é: sim. Mas quando o farão?

Vários artistas têm pintado Jesus à porta, a bater. Talvez o quadro mais conhecido seja o de Hunt. Representa o Senhor à porta, esperando que lhe dêem entrada. O rosto e o olhar expressam  terna simpatia de amor. Conta-se que ao terminar o quadro, Hunt chamou um de seus amigos, cultor da mesma arte, para criticar o trabalho. Disse esse amigo: “É uma obra de mestre. Que maravilhosa expressão de ternura pôs você no rosto de Jesus!” Depois alguma coisa que lhe chamasse a atenção, afirmou: “Perdoe-me; você pediu minha crítica. Quero dizer-lhe então, que se esqueceu de colocar o trinco do lado de fora da porta. Como pode o mestre entrar?”  O autor sorriu, e respondeu: ‘não, amigo, isso não foi esquecimento. A porta só pode ser aberta pelo lado de dentro.’

Tendo assistido, uma menina com sua mãe, a um sermão numa igreja, começou depois, em casa, a pensar em voz alta: ‘Ele disse: Jesus, que queres entrar em nosso coração. Sei que me amas, e também sei que te amo; e quero que entres no meu coração e mores comigo’. A mãe da menina, que a estava escutando, ouviu-a dizer depois: “Quero que entres agora”. E acrescentou, a menina, cheia duma expressão Angélica de alegria, com as mãos cruzadas sobre o coração: “Oh! Já estás aqui”.

Sim, Jesus não abre a porta. Ela deve ser aberta pelo dono da casa. Se Ele a abrisse, seria forçar a Sua entrada onde não há prazer em recebê-Lo. Ou abrir-Lhe-ão alegremente, ou O deixarão fora e não O terão jamais consigo.



“SE ALGUÉM OUVIR A MINHA VOZ, E ABRIR A PORTA,

ENTRAREI EM SUA CASA”



A igreja de Laodicéia, em geral, fechou seus ouvidos às denúncias, conselhos e exortações do Senhor Jesus. “O testemunho da Testemunha Fiel, nem pela metade foi aceito. O solene testemunho sobre qual repousa o destino da Igreja, foi considerado levianamente, senão inteiramente desprezado” (Early Writings, E. G. White, 270). Mas o amante Salvador continua a bater e há de bater por mais algum tempo ainda. Ao enviar a carta a Laodicéia, bem sabia Ele que, para Sua tristeza, a igreja em sua totalidade não Lhe abriria a porta. Esta é a razão porque Jesus faz um apelo individual a cada sincero cristão de Laodicéia, para que O deixem entrar na casa de suas vidas, pelas portas de seus corações.

Haverá imensa alegria para aqueles que abrirem as portas de seus corações ao Salvador. Em Seus dias na terra, um homem O recebeu alegremente em sua casa. Ao transpor-lhe a porta da casa, e aquele homem manifestar o seu regozijo, disse Jesus: “Hoje veio salvação a esta casa” (Luc.19:9). Deveras é isso mesmo. Ao entrar Jesus nos corações de Seus amados, a salvação entra e eles são salvos imediatamente. Agora a vida eterna lhes é assegurada, pois têm Aquele, por Quem esta vida unicamente lhes é possível. (I João 5:11-12).

Quando Jesus reina no coração, há santidade e libertação do pecado. A glória, a plenitude e a perfeição do plano do evangelho se cumprem na vida. A aceitação do Salvador proporciona um gozo de perfeita paz, de genuíno amor e de completa segurança. A beleza e a fragrância do caráter de Cristo revelados na vida, testificam que Deus enviou, de fato, Seu filho ao mundo, a fim de ser seu Salvador. (II Cor.2:14-17)

Os Laodicenses devem abrir, sem delongas, a porta a Jesus, e ter o gozo, que teve aquela menininha, atrás mencionada de vê-Lo pela fé entrar em seu coração.





E COM ELE CEAREI E ELE COMIGO



Que imenso regozijo deve ser ter como hospede o Rei da glória. Quão preciosa é esta promessa aos crentes de Laodicéia, vencedores. Com os mornos Laodicenses que lhe abrirem alegremente a porta, quer Ele regozijar-se numa ceia amigável e íntima. Ninguém que O receba necessitará de por a mesa e arranjar as iguarias para o honrado hóspede. Davi, nos seus dias, escreveu ao receber Jesus como Hóspede de sua vida: “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos” (Sal.23:5).  



UMA GLORIOSA PROMESSA AO VENCEDOR




É a última e a mais maravilhosa e principal das sete promessas de Jesus Cristo à sua igreja. O cristão da igreja de Laodicéia, aquele a quem Jesus Cristo ameaçou vomitar de Sua boca, que não for tocado por esta tão elevada promessa, não o será por nenhuma outra. Se ele considerar de pouco valor assentar-se com Jesus em Seu trono, nada mais resta a fazer por ele.

A promessa de assentar-se no Seu trono, não significa que todos os vencedores se assentarão no mesmo trono onde Ele se há de assentar como Rei coroado, mas que participarão de Seu reino e poder, fato que há de ocorrer durante o milênio quando dEle receberão poder para, assentados em tronos, julgarem os ímpios recalcitrantes.  

Devem os Laodicenses ter em alta conta a sublime promessa, e a ela se apegarem para vencerem a mornidão, a indiferença e a presunção de falsa riqueza para poderem triunfar com Cristo e participar de Seu trono.

“Conta-se que Vasco da Gama teve um dia de sufocar uma revolta da marinhagem. Para dominar a perigosa revolta, Vasco da Gama não discutiu, mas lançou ao mar as bússolas e cartas de marear, e apontando para a longínqua Índia, disse apenas: ‘Este é o rumo, agora o piloto é Deus’”. É isto o que devem fazer os cristãos de Laodicéia – vencer a revolta da ‘carne’ contra o direito divino. Devem jogar ao longe a bússola da pretensão e as cartas da justiça própria. Urge que tomem como piloto o Deus Filho que bate em seus corações, e então, com segurança, chegarão à gloriosa terra prometida que buscam.



QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS




Pela derradeira vez o Espírito fala à igreja de Deus. Sua voz estende-se por todo o período desta última igreja, como se estendeu a cada um dos seis inteiros períodos anteriores. Se os crentes de Laodicéia fizerem ouvidos moucos à voz do Espírito de Deus, e não derem importância às Suas advertências exaradas em Sua carta, têm então pecado contra o Espírito Santo, e não lhes restará esperança alguma de salvação em Cristo Jesus. Só estará seguro se atender a voz de amor do Espírito que lhes fala em nome de Deus e de Seu Filho.






Texto Extraído do livro "A VERDADE SOBRE AS PROFECIAS DO APOCALIPSE" - A. S. Mello











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